15 de março de 2018

Mario Vargas Llosa e Júlio Ramón Ribeyro - amizade partida

Um dos meus amores literários se chama Julio Ramón Ribeyro, como muitos sabem. Ele e o Mário Vargas Llosa foram amigos durante mais de 30 anos. Chegaram a assinar manifestos de esquerda juntos (sim, Vargas Llosa já teve esse passado, vejam só!) e dividiram o mesmo apartamento em Paris durante um tempo. Foi Llosa que ajudou Ribeyro a arrumar seu primeiro emprego na capital da França, e Ribeyro foi um dos primeiros a ler o manuscrito do seu primeiro romance, "A cidade e os cachorros". Parecia ser uma amizade dessas pra durar a vida inteira. Até que Julio Ramón Ribeyro recebeu o cargo de embaixador na UNESCO através do presidente peruano Alan Garcia, a quem Mário Vargas Llosa fazia ferrenha oposição política. Julio escreveu e publicou um artigo tecendo duras críticas a Lllosa, que por sua vez disse que Ribeyro só defendia aquelas ideias pra não perder seu cargo de prestígio.

 

Resultado de imagem para Mario Vargas Llosa e Julio Ramon Rybeiro

 

Em 1993, Mário Vargas Llosa publicou esse livro de memórias, "El pez en el agua" ("O peixe na água"), que conta desde sua infância e a perda do seu pai até o momento em que concorreu à presidência do Peru (e perdeu para Alberto Fujimori, o que na época da publicação do livro era algo recente). No meio de tudo isso, ele desce o sarrafo no Julio Ramón Ribeyro, criticando duramente seu posicionamento político. Júlio já tinha falado mal do Mário em "La tentación del fracasso", livro originado a partir de seus diários. A amizade já se tinha encerrado desde a primeira rusga, que Julio nunca revidou (primeiro por não gostar de contendas, segundo, porque dizia que Mário, sendo bem mais famoso e tendo bem mais mídia do que ele, sempre ia parecer estar por cima). Nos bastidores, entretanto, ambos afirmavam ser leitores um do outro e Mario disse muitas vezes que Júlio Ramón Ribeyro era o melhor contista peruano. Em 1994, Julio morreu de câncer, sem que ambos tivessem jamais voltado a se falar.

Apesar da enorme popularidade de Mario Vargas Llosa e de Júlio Ramón Ribeyro no Peru, foi dificílimo encontrar “El pez em el agua” nas livrarias de Lima. “La tentación del fracasso” não, foi bem mais fácil, o que é de se admirar, porque Mario tem mais reconhecimento entre os peruanos.

Agora, me resta ler e me aperceber do que cada um disse de si, dentre tantos outros assuntos abordados nos seus respectivos livros de memórias no qual, da amizade entre ambos, só restaram despojos.