16 de novembro de 2016

A poesia de Carvalho Junior

Carvalho Junior é a assinatura literária do professor/versicultor, índio fantasma da tribo Quirola, Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior. Vencedor do Troféu Nauro Machado de Poesia no I Festival Maranhense de Conto e Poesia promovido pela Universidade Estadual do Maranhão. Publicou 3 livros de poemas, o mais recente “Dança dos dísticos” (Patuá, 2014). É um dos organizadores do sarau Na Pele da Palavra e faz parte do coletivo de poesia Academia Fantaxma. Tem poemas publicados em antologias e revistas literárias nacionais. O segundo poema desta série, “Música/dança do eterno” integrará a antologia “Hiperconexões (vol.3)”, organizada pelo ficcionista Luiz Bras. Prepara a publicação do novo livro de poemas “No alto da ladeira de pedra”.  [professorcarvalhojunior@gmail.com]

 

A música/dança do eterno

 

talvez quando o homem
— este boneco de barro
que as crianças ciborgues têm nas mãos
e tentam, na pele do corpo dele,
encontrar a máquina de bombear amor —

descobrir o silêncio perdido
em algum chip de silício
empoeirado de soluço...

talvez outro humano,
evoluído em orelhas e ironias,
nasça sobre a face de um planeta
ainda por ser inventado.

vida e morte, fábulas obsoletas.

a única alternativa de travessia
para além das sementes dos tempos:

a música/dança das sílabas & ecos
do ornejar hibridelirante da jument@ndroide.

                                                     

 A dança mística das sementes vermelhas no meio-fio da vida

para tomar no cuspe da índia o segredo dos assobios dos pássaros das cercas de enganos da infância. para me juntar ao abandono dos umbigos dos riachos mortos. para correr nu pelos paralelepípedos da rua Santa Cruz em finais de semana de solidão chuvosa.

para ouvir tua bolsa pele de serpente bárbara declamando Shakespeare e destelhando a abóbada celeste na explosão de orgasmos. para me esticar na grama que acolhe os alfabetos sentimentais das minhas origens.

para rasgar nas unhas do arame os calos de sangue dos pés dos meus fantasmas. para me desconhecer e me matar quanto possa da companhia dos punhetas incrédulos sem fome de travessia.

escrevo para ver meus abismos se equilibrando na dança mística das sementes vermelhas no meio-fio da vida na volta para o ninho invisível.

 

Um aceno tímido

o amor é o coice de um burro manso
filho de um cantor brega ordinário,

não a raparigagem de dizer:
— meu coraçãozinho

é uma pitombinha tão amarelinha
como minha anemiazinha.

máquina giratória de ausências:
sangue, lágrima e prece de mãe.

um aceno tímido,
sorriso de punhal afiado,

o amor é um cego dos pés aleijados
pedindo esmola na rodoviária.