15 de março de 2017

A poesia de Leandro Rodrigues

Leandro Rodrigues, nasceu em 06/01/1976 em Osasco -SP, onde reside Formado em Letras - Pós-Graduado em Literatura Contemporânea, é Professor de Literatura e Língua Portuguesa. Seu livro de estréia é Aprendizagem Cinza, lançado em  2016 pela Editora Patuá. Também é autor do blog: nauseaconcreta.blogspot.com.br,  e um dos autores da Revista Zona Da Palavra. Possui alguns poemas em diversos sites, revistas literárias e jornais como:  Jornal de Poesia, Zunái, Germina, Mallamargens, Cult, Antônio Miranda Portal de Poesia Iberoamericana, Revista 7 Faces, Musa Rara, Portal Vermelho, Cronópios, Banquete Poético, SérieAlfa (com traduções do poeta catalão Joan Navarro), InComunidade (Portugal), Blocos Online, Revista Alagunas, Diversos e Afins, Correio Braziliense etc

 

SÃO PAULO IX

 
Na cinzentude opaca
de fuligem e concreto armado
estilhaços - espaços entre as grades
fragmentos e frestas
o grito
que vem das galerias
de esgoto e escorre
entre o rio que não
é rio
e a revolta represada
na merda.
]
Três tiros bastaram
para sangrar essa lua
para estancar esse medo
para escorrer o óleo diesel
do olhar lacrimejante
da moça bem vestida da Consolação.
]
Três golpes frios - lâmina branca
para jorrar ladeira abaixo
todo esse lixo de plástico descartável
- biodegradável
Todo esse caráter artificial
mais valia $ $ $ $
com gosto de opressão
(os subúrbio pulsam)
]
Na cidade mais podre/
em putrefata simetria
(de chumbo)
[
Três tiros bastaram
para apagar de vez esse lirismo doente,
doentio,
semi-morto.

 

*

 

4 CENAS DO CÃO ANDALUZ

 

I

 

por que um cão sangrento
atravessa-nos à noite
e reduz a lua com
seu brilho no esgoto
numa parca brancura
disforme moldada
ou uivo do mal agouro
encarcerado/ sombra des-
fragmentada num osso
de nossa própria (in) existência
as vísceras repugnantes
à mostra para consumo
da matilha e suas fartas mandíbulas.

 

*

 

II

 

O ventre exaurido do parir eterno
constante:
palavras, palavras, versos
desarticulados/ disformes
e tão orgânicos.

 

*

 

III

 

costumeiramente rasgados
no cordão arrancado
com navalha fria, afiada
bem trabalhada.

 

*

IV

 

no rescaldo de tudo
o cão  -  o grito
se deita  -  carne viva
restos da pelagem
moldura mórbida estática
da sala de jantar imponente
com seus móveis discretamente apoiados
em calços vermelhos e
nas sombras tortas desfocadas
de todos aqueles animais mortos
da família – empalhados
o sangue que ainda respinga
pisado.

 

*

 

METODOLOGIA DO NADA
estendo as palavras no curtume
as que ainda respingam sangue
servem para o poema.

 

*

 

ESTETINO (OU NO CAMINHO COM BUKOWSKI)

Anoiteço
Com longos versos de bukowski
Num caminho aberto
de chumbo e cipreste,

Com a boca turva/ calada
mortalha desfiada
pelo uivo da matilha,

Nos golpes precisos/
aniquilada-
matéria finda.
Todos sabem quem são os ladrões
desse inverno.

Quem furta a noite, o soco
E vomita seu limbo
na fresta da lua às mínguas/
lua restrita/ dura,
exilada no porão.

Todos sabem.
Ou fingem saber
dessa tragédia monótona/ manchada
desprovida de carne/ esfacelada
pelo antepassado açoite de metal,
ranhuras profundas/ espirais de aço
jardins de fuligens.

dos galhos secos enfeitados
o grito aflito-presente/ ressente
poema torto -  em alto-relevo,
desdobrada agonia/
corrosivo-desprezo,
nas obscuras pétalas de óleo
improváveis marcas de sangue
da cidade muda/ disforme.