11 de dezembro de 2020

Como se faz o poema de Adelaide Ivánova

Como se faz o poema é uma série que compartilha o processo criativo de poetas brasileiros/as.

Adelaide Ivánova é poeta, jornalista, fotógrafa, escritora e tradutora brasileira, nascida em Recife, em1982. Organiza e edita as zines mais pornô, por favor! – berlin/Recife, 2016-2018 e mais nordeste, por favor! – berlin/Recife, 2019-2020. Publicou os livros: autotomy (...) (Pingado-Prés, 2014); Polaróides (Cesárea, 2014); O Martelo (Douda Correria, 2016) e 13 nudes (Macondo, 2019).

o envelope

adoro lamber envelope
eu gosto do gosto da cola
do envelope há algo
de devoção em lamber
papel e esse que
carrega o contrato
assinado com o advogado
leva dos fatos a minha versão
lambo esse envelope em pé
posto que esse papel lambido
é linguagem
e revolução.

*

Você tem algum ritual de preparação para a escrita? como é o esse processo?
Não sei exatamente. Não tenho ritual, mas tenho uma rotina muito simples e muito repetitiva, o que talvez ajude? Não sei. Acho que na maioria das vezes o poema vai se formando devagar, dentro da pessoa, do acúmulo deliberado ou não de vivências, pesquisas, leituras, conversas, entrevistas; enfim, referências vão se acumulado e vão formando não somente um repertório interno, mas também vão lapidando um poema. A escrita, o sentar pra escrever, é a ultimíssima parte do processo, que também depende de qual fase a escrita do livro está.

Você revisa seus poemas?
Isso depende muito. Mas pelo que me lembre eu reviso mais do que não reviso, alguns poemas reescrevi mil vezes, testei mil quebras de linha, um poema como "a visita" tem trocentas versões. Mas além disso os poemas vão se ajeitando no decorrer da sua vida. "para laura" tem várias versões diferentes, por exemplo, todas "oficiais", todas publicadas.

De onde surgem as ideias para escrevê-los?
A ideia de escrever o poema vem do desejo de encontrar uma resposta pra uma pergunta/angústia de ordem coletiva- às vezes a gente consegue, às vezes não.

Qual é o seu poema favorito? ( seu e de outro poeta)
Não tenho poema favorito nem meu nem de ninguém, o que não quer dizer que não seja louca por várias/os poetas e poemas. Tenho tentando cada vez mais tirar as pessoas (e as coisas que elas produzem) de pedestais. Mas para não deixar você sem resposta, esse ano eu li muito Brecht e tô muito apaixonada.