19 de janeiro de 2022

Como se faz o poema de Valeska Torres

Valeska Torres nasceu e cresceu no subúrbio do Rio de Janeiro. É poeta, escritora, performer, editora assistente na editora 7Letras, apresentadora do podcast Garganta! e estudante de biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). É autora do livro O coice da égua (7Letras, 2019) e publicou em diversas antologias, fanzines e plataformas digitais no Brasil, Argentina, Paraguai e Venezuela.

Como se faz o poema?

Essa pergunta tem várias respostas dependendo do meu humor e do dia. Nos últimos tempos, fazer poema, basicamente, consiste em uma experiência coletiva. Tenho escrito em oficinas, tenho lido em voz alta nessas oficinas e até mesmo tenho me empolgado em escrever nas oficinas. Vejo as produções de algumas pessoas e penso: - Uau! Quero ser assim quando crescer! Risos.
Na real, é difícil escrever em meio a pandemia. Então eu coloquei na cabeça que as oficinas são esses espaços de produzir meio manca, meio cansada, um poema meio nhéé. Ler e conversar sobre poesia é carinhoso, me faz querer continuar.

Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Como é esse processo?

Na real, nunca houve, nem antes e nem durante a pandemia. Eu levo a escrita a sério, como trabalho mesmo, mas não sério demais, pô. Geralmente escrevo depois de muita perturbação nessa cabeça aqui, as palavras ficam rondando, os pensamentos ficam pairando, pedem pra sair, sabe? Aí não tem muita escapatória, só digo: - vai ganhar o mundo, poema! (meio chatin esse tal de poema, nhá)

Você revisa seus poemas?

Reviso sim, e geralmente essa revisão é feita coletivamente. Envio para algumas amigas e amigos poetas, e a partir do que é dito, vou vendo uma melhor forma de cortar ou mesmo de mudar versos de lugar. É gostoso esse movimento. Ouvir as leituras das pessoas que gosto e confio. Sempre que alguém me procura me pedindo dicas sobre como publicar em editoras, digo logo que é preciso revisar os poemas, antes do envio, não só no sentido de erros de português, mas também no sentido de ter alguém que faça uma leitura crítica, de preferência, por pessoas que trabalham com isso, ou se não for possível, por amigas/os sinceras/os. É difícil para as pessoas entenderem que as críticas, quando bem articuladas e argumentas (claro!), direcionam a/o poeta a lugares mais seguros e conscientes da sua própria escrita.

De onde surgem as ideias para escrevê-los?

Geralmente, as ideias surgem do movimento das ruas, avenidas, becos e encruzas. Escrevo, principalmente, em transporte público. Porém, por conta da pandemia, aprendi a escrever de outras maneiras, e uma delas é aquela forma bem clichê que é o sentada na cadeira, digitando no computador. Além do mais, agora eu tenho tempo para isso, porque antes era difícil com uma rotina de trabalho e faculdade, era papo de sair de casa às 6h e chegar às 23h.
O último livro que escrevi e ainda não publicado, foi escrito a partir do RPG Cyberpunk 2020 e de livros e filmes, majoritariamente, distópicos. A prosa me incentivou muito nessa escrita, até mais do que a poesia, já que as referências poéticas para o que eu queria escrever eram escassas.

Qual é o seu poema favorito? (Seu e de outro poeta)

Não tenho um poema favorito, é muito difícil para mim ter coisas favoritas, porém, atualmente, eu tenho me dedicado a poeta são-tomense Conceição Lima. Por enquanto ela tem sido algo próximo a aquilo que significa “favorito”.