A poesia de Iago Passos
tenho pensado aqui é meio inóspito
pra poesia o poema já não interessa
ainda assim riscar aqui o que não se
seria talvez uma chance ao acesso
ao erro
tenho pensado em reflexos de luzes
nas janelas dos ônibus esses pêndulos
de uma cidade a outra os postes
pintando um céu invertido meu corpo
derramado e torto chacoalhando
tenho pensado em flertes via reflexos
e vejo que adoro o jogo do desejo dissimulado
tenho pensado em como ser sincero
sem ser absurdo
ou inóspito
ou em como não assustar o poético
mas meio áridas as minhas planícies
me chamaram árvore velha fruto novo
seco por fora suculento a quem se atreve
tronco acima, casca adentro
*
da memória dos corpos
que dormem
amanheço
de muitas vidas
os fantasma avôs
tremem os músculos
eu
encruzilhada de tempos
na noite os esquecidos
vadiam seus mil nomes
de outras angolas
vago pelo antes do início
*
no reflexo o corpo recusa
o que chega de assalto
meu irmão de onde vem
a raiva nos teus olhos não é tua
um caboclo já me disse
guardo muito bem a frente
atrás é que dou vacilo
& quando o ar escapa a guarda abre
(resfria &respira rapaz / não rasga a cicatriz)
: voo de cara
travesseiro de concreto
não há carne quente que dê conta
do pavio curto de tempos molotovs
nem sinto
o instante raspando a pele