11 de janeiro de 2017

A poesia de Wanda Monteiro

Wanda Monteiro, uma amazônida, nascida às margens do rio Amazonas no coração da Amazônia, no Estado do Pará, Brasil, reside há mais de 30 anos no Estado do Rio de Janeiro. Mãe de três filhos, Wanda Monteiro nunca se afastou de sua vocação literária. Além de escrever, exerceu a atividade de revisora e de produtora editorial durante muitos anos. Participou de vários projetos editoriais de pesquisa histórica realizados no Estado do Pará e sempre publicou seus textos literários em revistas literárias, blogs e sites. Publicou dezenas de seus textos poéticos na Antologia Poesia do Brasil do Proyecto Sur Brazil, participando dos volumes IX, XI, XIII, XV. lançados no Congresso Brasileiro de Poesia no Rio Grande do Sul.é autora dos livros: O Beijo da Chuva, Editora Amazônia, 2009, Poesia; Anverso, Editora Amazônia, 2011, Poesia; Duas Mulheres Entardecendo, Editora Tempo, 2011, Romance escrito em parceria com a escritora Maria Helena Latini. Aquatempo – Sementes líricas, Editora Literacidade, 2016, Poesia.
Contato: monteiro.wanda@gmail.com

De Mim

Devo convencer-me a viver entre os demais –
mesmo sofrendo da aguda sensação
de sentir-me como um peixe atônito
flutuando sobre uma multidão
que se forma e deforma.
Mas não pretendo renunciar aos atributos do humano. E, tampouco,
deixar de comover-me com o mundo,
enxergando nos invisíveis cotidianos
o íntimo absurdo da impermanência
do tudo que há em mim
e do tudo que há nos demais.

*

Da madrugada

I

a madrugada
já não é mais doce
nem morna

a madrugada
não mais te afaga como brisa

gélida
a madrugada
singra–te
e
te parte
deixando-te em ruínas

a madrugada
já não mais é contemplação
agora
a madrugada contempla teus escombros

II

a calma se esvai pelas horas
horas crescem no escuro
pálpebras em sofreguidão
fecham-se
abrem-se

o cansaço dos músculos
demônios acordam
assombram o silêncio

vem o instinto aflorado de erguer
e soerguer a fé

a oração dita e redita como mantra
o abrir a janela
o desejo de olhar para o céu
e a busca de respostas nas estrelas

a lua a nos espreitar

insone

o sonho se contorce na insônia

como podemos dormir
se a madrugada nos encharca de dúvidas
?

*

Da ausência

I
a ausência
tange o corpo

fria
cortante
vara os dentes

inúteis escudos
cravados em vão

e a carne

que já era fria

congela

II

deixou o leito febril de ausências
saiu
varando sombras
procurando luz em portas
em janelas

no ensaio de sua cegueira
ajoelhou-se no cimento
de uma noite sem céu

e pôs-se a implorar por um bálsamo

saudade é como noite sem sono
dói de agonia.
dói de espera

III

anoiteceu luas de silêncio e
espera

um dia
acordou voz

olhou para o céu
e disse

entra sol
vara o meu rio com tua luz

faz com que essa solidão
que corre fria
corra morna
quem sabe essa dor não dói tanto