21 de abril de 2016

Walking bass

 

Escrevo porque não sei fazer música.

Todo tom ocluso bate o baixo

(fantasma)

que aprendi

que não aprendia,

enquanto ando pelo quarto, solfejo o baixo, subo e desço escala, subo e desço a escada para a sala, ah um, dop-dum-dum dom..., dop-dum-dum dom..., better git in your soul do que no meu baixo, dop-dum-dum dom..., nem tento o resto da introdução, dop-dum-dum dom... deveria não ter matado tantas aulas, treinado melhor os arpejos, dop-dum-dum dom..., cadências, batem bem aqui, improvisar em cima, mas fica topando na minha cabeça dop-dum-dum dom..., ao menos não é com letra, com aqueles versinhos que passam a tarde toda repetindo e repetindo... top-tum-tum tom... até parece ter o tom do primeiro movimento da quinta... tum-tum-tum tom..., dó, menor, bem menor...

 

***

...a tarde meio entediada e com tanta cisma de baixista, isso de ser menor, como poeta menor, como cronista, diminuto, não ser romancista, de saber que é visto como um músico que toca uma guitarra estranha, com menos cordas, e que não faz tanta falta, isso de estar entre a bateria e a guitarra, que tocam o importante, mas que também nem chegam a ser um solista, como crônica entre ensaio e poesia, mas que não chega a ser epopeia, ou então aquela coisa de ser um baixista porque dá pra só marcar o pedal, escrever uma crônica é mais tranquilo do que escrever um romance porque é preciso controlar menos elementos, e nem posso escolher o baixo acústico e tocar na orquestra, não aprendi nem o baixo elétrico, nem as frases de banda de garagem, o baixo que é melhor tocar em pé porque o ideal é tocar andando, marcando a passada...