A poesia de Bruna Kalil Othero
BRUNA KALIL OTHERO
nasceu em terras belorizontinas, na primavera de 1995. Publicou, em novembro de 2015, seu primeiro livro, “POÉTIQUASE”, pela Editora Letramento.
DELÍRICO
Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira
escrevo poemas como quem bate
na porta
perguntando
timidamente
se pode entrar
escrevo poemas como quem bate
no peito
tentando arrancar dali
uma veia do coração
sangue venenoso
escrevo poemas como quem bate
palmas
estupefata de ver
um filho meu
grudado no papel
e esse êxtase todo esse delírio
me excitam
quando rodo a maçaneta
escrevo poemas como quem bate uma punheta
DE VERÃO
nosso amor é um castelo de areia
que nós
persistentes
munidos de pás e baldes
plásticos
lutamos pra construir
no terreno movediço
desta praia
e ele fica lindo
imponente
com janelas grandes alas
salões de festa
bandeiras
tudo isso
pra no fim do dia
o mar vir
de inveja ou solidão
e derrubá-lo
no glamour aquático
do caos
o pouco que fica
além da vaga memória arquitetônica
é um grão de areia
persistente
na calcinha do meu biquíni
TEMPO
vejo ao longe
aquela mulher decadente
com o rosto gasto
as mãos gastas o pescoço
e o ar de
já foi bonita
alcanço-a
caminhamos lado a lado
ela me olha
fixa
eu pisco
passo na sua frente
com o passo
trêmulo consciente
amanhã
serei eu
a decadência
CONFUSÃO MIMÉTICA
eu não sou eu
Sebastião Uchôa Leite
este eu
que está aí
pomposo cheio de si
se querendo todo achando
que é o rei da cocada preta
este eu
não sou eu não
viu?
juro que eu
– eu de verdade –
eu sou ótima
conversada despojada
e no máximo
princesa dessa cocada
VALSA
por não me tocares
quaisquer esboço passo vaga intenção
(ligeiros que sejam)
já me estremecem
todo
e quando me encontro em tuas mãos
aberto tonto
rodopio
desfaleço
entendendo tua sutileza instrumental
rítmica
eu
já bailarino
dou dois passos pra trás
– te chamando –
e tu
séria sublime
notas:
na destreza inerente da pianista
me tocas