17 de fevereiro de 2016

A poesia de Antônio LaCarne

Perto demais

só você escolheu percorrer o sri lanka
deixar meus pés sujos de lama
onde nenhum homem
esta noite
soube cobrir meus olhos
dançar ao redor do mundo
cuspir no espelho
medir os botões que cobrem o corpo
e rever algumas vezes
por onde andei ou se fui outra.

 

Regras de interpretação

eu estava me sentindo perdido e sozinho
e muito especial por não perder o controle
cometer 12 mil erros
telefonar desesperado ou cair no abismo
às quartas-feiras pensando nos bruxos e bruxas
que cruzamos dia a dia, morrendo de calor
paquerando a pessoa errada
criando expectativas
aumentando as calorias e etc
quando nós mesmos deveríamos tomar vergonha na cara
e encarar o próprio rosto, nossas próprias feridas
desvios de personalidade
ser uma estrutura perante o mundo
e de quebra:
se fazer de doida.

 

Meu amor é dadaísta, sincero e sem refluxo

Ninguém é sincero como ninguém. Eu queria uma estrela pra enfeitar você (ou um dildo pra tornar tudo mais interessante). Meu coração está do outro lado. Precisamos abrir os olhos antes que as novinhas tomem o controle. Não há culpa extrema se você é uma pessoa, digamos, honesta. Adoro intrigas quando o amor é incerto. Só não enlouquece quem tem o rei na barriga. Não envelheço como de costume. Queria ter imaginado sangue, perfume e dois olhos sinceros. O amor alucina você trancado em casa e esperando algo acontecer. Nosso amor próprio continua descontrolado. Vira e mexe adormecemos nos braços de um monstro. Por favor, não sintonize naquele corpo efêmero. Só arrisca quem tem coragem de mamar em onça. Solidão acima do bem e do mal. Minha carta de alforria nunca será o outro. Todos nós somos monstros negativos. Não quero intimidade com o dealer. Sexo por um copo de cerveja: só você é um expert. Meu amor, não depile as axilas. Devo continuar a ser uma pessoa produtiva. Não seja irônico, seja icônico. Por favor, não desligue os aparelhos. Ninguém assume os eternos exercícios do fracasso. Adoro a sua cabeça. Nosso teste de resistência precisa ser positivo. Cada um de nós é responsável pela própria indulgência? A moda agora é se fazer de doida. Meu amor por você é de poliuretano. Com o sacrifício de uma pessoa real, pago minhas contas à vista. Me divorciei de algumas dúvidas. E a noite deverá ser incrível.

 

Antônio LaCarne nasceu em 1983, cearense, autor de “Salão Chinês” (Patuá, 2014), tem seus textos publicados em antologias, suplementos literários e blogs. Assina o blog O Impenetrável.