3 de fevereiro de 2016

A poesia de Bruno Gaudêncio

O SILÊNCIO BRANCO

Dentro da casa
cabem sérias feridas,

elas falam de uma cor ausente
(um silêncio branco)
algo que dilui as retinas.
O LANÇAR DE DADOS
Para Amador Ribeiro Neto

Mallarmé ri
do seu próprio
lançar de dados

(cada ponto
uma interrogação)

descontinuidade imagética,
do branco

dispersão semântica,
do negro

fissuras sintáticas,
nas margens de todas as cores.

 

FIOS DO INFINITO
“mesmo com Deus por companhia.
tempo gigantesco é um dia”
(Alberto da Cunha Melo)

Os cabelos agem
silenciosamente,
crescem cativos
nas mãos humildes do tempo

de tanto comerem os ventos
assoviam a liberdade.

 

UM ESPELHO ENTERRADO

“o tempo come a memória,
que se alimenta de tempo:

ao fim se conta a história
sem o seu dono por dentro”
(Roberval Pereyr)

A veracidade do eterno
morde a memória -
antecipa a angústia
dos rastros.

a veracidade do eterno
dissipa os sonhos –
prensa a noite
nas listas das culpas.

no galope do infinito
os relógios enxergam
um espelho enterrado.

 

Bruno Gaudêncio - Campina Grande - PB (1985), é escritor, jornalista historiador e professor. Publicou diversos livros, destaque para Acaso Caos (Poemas, 2013, Ideia), Ariano Suassuna em Quadrinhos (Quadrinhos, 2015, Patmos), com ilustrações de Megaron Xavier e O Silêncio Branco (Patuá, 2015), obra de onde foram retirados os poemas acima.Têm poemas publicados em diversas revistas e sites culturais nacionais e internacionais, a exemplo do Correio das Artes (Paraíba), Verbo 21 (Bahia), Brasileiros (São Paulo), Acrobata (Piauí), Literatas (Moçambique), Orizont Literar Contemporan (Romênia) e Samizdat (Portugal).
E-mail: brunogaudencioescritor@gmail.com