16 de julho de 2015

Tarde - Leitura poética de "Tristeza no céu", de Carlos Drummond de Andrade

A tristeza há de acompanhar a humanidade, sempre. Há de acompanhar os animais, a natureza, e há de acompanhar também os deuses. A existência, 'sem explicação', permanece. Mas o que vem do alto, o que nos atinge, levando a alma a desabar, levando a cada um de nós a cair no abismo dentro de si, como diria um poeta português, sempre, também, nos atingirá.

É essa vontade precisa que me atinge, vez por outra, assim como a você, que observo nas palavras de Drummond.

Foi preciso ver as serras ao longe para te escutar, à tarde ou a qualquer momento do dia.

 

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[Tristeza no céu]

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Porque fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.

Os anjos olham-no com reprovação,
e plumas caem.Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor
caem, são plumas.

Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada,
ou seja, a tristeza de Deus.