22 de janeiro de 2015

A poesia de Vitória Ferreira

Compondo um precipício
Como uma prece abafada
Nos templos ruídos esquecidos
Mas sempre relembrados
Solidão e eternidade
Como essa casa na estrada
E se não vir como um grito
Esse despudor desatino
Cicatriz dos meus mergulhos
Não digo
Deixo morrer
A tormenta brota de ventos
Que brincaram em teus cabelos
E se arrastaram para o retorno
De um sono na surdina,
Em estações eternas
Desanguando um secreto inteiro
Dissipado em minhas linhas
Pontilhadas do vazio.

*

O que arrebata desampara certezas
Destrói purezas
Assim tu
Leopardo cigano escondido da luz
Escuros olhos de espirais elétricos
Que me seduzem
Olhos baixos, meu túnel escuro úmido
Flor que sai das bocas de sereias
Feito prece dissonante
Tua presença imensa afogando o dizer
Calado por compaixão
É deleitoso falar de ti, como penoso pensar assim
Se verdade, faço morada no peito
Para voltar nascida e vária do teu sumo escorrendo
Mas ignora a desavença
O que só é ódio frêmito o que surge de paixão.

*

Tecelã de noites dançarinas
Passos no labirinto de fogo
Inceideiam minha casa
Armada para só nos resguardar
Do aço parco que lá fora
Me braveja

Corpos ligados por fios de ardor
Procura o torpe das esperas
Que corte tua brevidade cega

Deita no céu carmesim
Feito som e amor
Ideia envolta de pó da terra
Se fazendo corpo de ti
Quando só puder viver em mim.