18 de julho de 2014

Perfil Poesia Brasileira – Cacaso: “Fazendo versinhos, querendo carinho”

Ah se pelo menos o pensamento não sangrasse

Ah se pelo menos o coração não tivesse memória

Como seria menos linda e mais suave

minha história.

Cacaso

 cacaso2

Os anos 70 é uma década marcante na poesia brasileira, sem espaço no grande mercado editorial brasileiro ou não desejando fazer parte dele, muitos poetas resolveram transbordar seus poemas em papéis mimeografados, distribuídos ou vendidos em bares, ruas, saraus e encontros literários, alguns começaram a publicar por si mesmo seus livros e fazer a distribuição nesse circuito. Resultado, uma poesia bem mais irreverente, mas seria de qualidade? Nem todos, porém com muita liberdade, ousando na forma e no conteúdo.

Essa geração, que recebeu tantos nomes, poetas marginais, geração mimeógrafo, revelou nomes que hoje se tornariam grandes best-sellers de, quem suspeitaria que um Paulo Leminski, uma Ana Cristina Cesár, um Chacal, um Waly Salomão seriam vendidos hoje igual a pão?

Dos nomes dessa geração, destaco aqui Antônio Carlos de Brito, o nosso CACASO, menino das Minas Gerais, que nasceu no dia 13 de março de 1944, na cidade de Uberaba, assim como o cometa Halley, passou tão rapidamente por nossos olhos, que foi-se no dia 27 de dezembro de 1987, deixando seus amigos do Rio de Janeiro e de todo Brasil com falta de versos no peito.

Cacaso foi professor de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira na PUC/RJ, Rio que foi a cidade do poeta durante o maior período da sua vida, mesmo mantendo relações de amor com sua Minas, tanto que escreveu um livro intitulado Mar de Mineiro, Já resenhado aqui no LiteraturaBR

(http://www.literaturabr.com/2013/02/mar-de-mineiro-o-desaguar-em-si_12.html).

Seu primeiro livro A palavra cerzida (1967)é o mais musical de sua obra, o poeta foi letrista e fez parcerias com Edu Lobo, Tom Jobim, Francis Hime, Sivuca, João Donato, Joyce, ainda nesse primeiro livro, poemas ainda mais longos, divido em partes, se modificariam com a publicação de seus outros livros, Grupo escolar (1974), Beijo na Boca (1975), Segunda classe (1975 em parceria com Luís Olavo Fontes) Na corda bamba (1978) e o já citado Mar de mineiro (1982). Essa fase anos 70, é talvez a mais genial na carreira da Cacaso, o verso muito conciso, o verso irônico, não ausente de lirismo, torna o autor, na minha perspectiva de admirador de toda geração dos anos 70, um dos mais originais dessa fase.

 

( Lero -Lero Parceria de Cacaso com Edu Lobo)

 

Heloísa Buarque de Hollanda, em 1975, publicou um livro chamado 26 poetas hoje, uma antologia que é o marco da dita “poesia marginal”. Não é à toa que o livro, que reúne nomes como Francisco Alvim, Torquato Neto, Capinan, Ana Cristina Cesár , Chacal, Waly Salomão. Tem como epígrafe de abertura um poema de Cacaso:

Modéstia à parte

Exagerado em matéria de ironia e em

matéria de matéria moderado.

Assim é Cacaso e sua poesia, contida em tamanho, transbordante de ironia e de lirismo, mas chega de LERO-LERO vamos aos poemas e as canções de Antônio Carlos de Brito.

Estilhaço

não me procure mais

não relembre

cada um sofre pra seu

lado

Falando sério

Outro amor? Não caio mais

 

Amor Amor, Cacaso e Sueli Costa

 

PRÉ-HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA PERIFÉRICA OU

NINGUÉM SEURA ESSA AMÉRICA LATINA

OU OS IMPOSSÍVEIS HISTÓRICOS OU

A OUTRA MARGEM DO IPIRANGA

 

jamais mudar pela violência

mas manter pela violência

morte ou dependência

 

CONTANDO VANTAGEM

Muitas mulheres na minha vida.

Eu é que sei o quanto dói.

PANACEIA

Mesmo triste comprove

a alegria é a prova dos 9

INFÂNCIA (2)

Eu matei minha saudade mas depois

veio outra

NATUREZA MORTA

toda coisa que vive é um relâmpago [ para Charles]

FOTONOVELA

Quando você quis eu não quis

Qdo eu quis você ñ quis

Pensando mal quase q fui

Feliz

INDEFINIÇÃO

pois assim é a poesia

esta chama tão distante mas tão perto de

estar fria

Dentro de mim mora um anjo, Cacaso e Sueli Costa.

 

LÁ EM CASA É ASSIM

meu amor diz que me ama

mas jamais me dá um beijo

 

pra continuar rejeitado assim

prefiro viajar pra Europa

 

HAPPY END

o meu amor e eu

nascemos um para o outro

 

 

agora só falta quem nos apresente