8 de julho de 2014

5 poemas de José Ribas

01. CERNE

Do absoluto e vago
que me distancio
escrevo o meu diário
sem respostas,

Não me intimida
saber direção
ou indício, do caminho
que não vejo,

Tempo que passou
não me dei conta,
desatento em ajustar
a via das horas,

A profundeza
das coisas é que leva,
aos lugares dos quais
não se retorna.

02. ULTIMATO

O perfume barato da escolha
me despertou o começo da tarde,
...falta mar na esquina da rua,

Deparo com uma lembrança
em cada um dos meus dedos,
peças do tempo, coisas de durar,

De todas as formas de tortura
pastar memórias é a mais inútil,
...falta sol no solfejo da chuva,

O dragão pousa entre a porta
e o espaldar da cadeira, boceja,
não decide se vai, se fica em casa,

Por todos os lados há caminhos,
quando começo a festejar a vida?
...falta voar na crina dos telhados.

03. POINT NOIR

As pedras me doem
como também as nuvens
viajo águas de tempos
diluídos na espuma,

Quanto sei de mim
que deva compor razões
para aquietar as ondas
de marés incertas?

Quanto de não saber
flutua em promontórios
cavados de proposições
que prendi na lua?

Vejo algum clarão
a refulgir no horizonte
e arquiteturas de descrer
os códigos, a vida...

Nada está pronto
há algo de transparente
impreciso, que emoldura
a névoa de tudo.

04. PELE DE VIDRO

Retirei as escamas
da pele de sombra
vesti essa feitura
de espaços indivisos
e lágrima de brasa,

Não vejo o espelho
de levar o que sei
às luas sem nome,
dentro de sentir fere
uma nudez de fogo,

Quando a vontade
se encrava na luz
acesa entre nuvens,
dói a fome em tudo
que sei de esperar.

05. TEIA

Voo baixo dentro
da sala
para atravessar as
palavras,

Em teias e nuvem
em fios
tecidos na poeira
que salta,

Estrelas a brilhar
presas
na armadilha luz
e a aranha

A desfiar o tempo
diz-se,
do nó que infringe
o pensar.