27 de maio de 2014

3 poemas de Marcos Paulo Leão

Repugnantes Repugnâncias

Não tenhas medo, minha criança
Que estarei aqui sempre a te acolher
De todo mal que te possa acontecer
Vindo de insolentes que gotejam arrogância

Que pedras poderão jogar em nós
Amantes atados por nó estrangulado
Invisíveis a olhos de senso desregulado
Mas que talvez nunca nos deixarão a sós

Mas o dia derradeiro em breve chegará
E chorarão as pessoas que ao invés de se amar
Ficaram em sua resoluta impertinência de Aedes

Mas eu que não sou louco de te deixar, ó Nefertiti
Apenas fico a zombar desse asco repugnante de Aegypti
Para por fim vislumbrar o futuro homérico que nos sucede

*

Acordo de cavalheiros

Não me importam as horas percorridas,
Mesmo com ela ao meu lado durante todo o dia,
Quando vem a noite, essa errante ingrata e vadia,
A tira de meus braços, arrancando crostas de feridas

Ela, a Noite, vê de perto o quanto eu sofro
Mas sem se condoer, só concede o véu negrume
Pra esconder meu rosto pétreo como de costume
Que mascara a vergonha de ter meus braços frouxos

Ah, se pudesse estancar as areias do tempo...
Poderia até fazer um acordo de cavalheiros:
Tempo, tu que sempre andou desde o nascimento

Se me concedesse somente um dia sem teus ponteiros
Aproveitaria todo esse tempo sem tempo com ela

E, ao final, em gozo diria: agora já posso morrer em Fevereiro!

*

Carícias Magnéticas

Olhos crispados nos olhos,
Um segundo de tórrido silêncio

De repente:

Uma avalanche de incêndios
E disparo a espremer teus poros

Mãos firmes a sugar
Boca sedenta a nutrir
Olhos infames a ferir
Mordiscas quase a revirar

Deslizo traços precisamente imprecisos
Percorrendo caminhos feito retirante fugido
Desejando teu corpo nu que trepida e pulsa

Com a intenção de me desperder do teu labirinto
Vou tentando achar a terra cálida do meu recinto

Quando finalmente mergulho no cerne de minha musa