5 de maio de 2014

Poema do Poeta em queda

"Ode aos Nerudas Perdidos"

Onde estão todos os Nerudas
que se foram antes que alguém
recebesse seus sonetos de paixão?

Assim, desconhecidos, ainda choram seus versos
e cantam a história do seu povo,
ainda ardem seus corações,
seja para falar do surgimento da vida
ou das camadas frias da cebola.

Onde estão todos os Nerudas que,
num mundo tão terrivel como esse,
ainda podem ser gentis
e distribuir as rosas para aqueles
cujos corações estão partidos?

Acontece que nossos Pablitos
também carecem de amor,
e nossos grandes poetas
estão lá fora,
escrevendo versos fedorentos
e falando sobre a triste
vida contemporânea.

Por isso, hoje de manhã
enviarei uma carta
a cada canto do mundo,
a cada pequena casa
e a cada grandiosa mansão,
a todos que por este mundinho
estão caminhando
e que neste mundinho
se encontram sem saber
para onde ir.

Nela, estará escrito
o mais belo poema
de meu poeta preferido
e a melhor notícia
que eu poderia vos dar:

"Está tudo bem.
Vocês não precisam ter medo de amar."

-

"Ruas Imigrantes"

Os insetos uivavam um poema escuro.

Ali perto feito machado
alguém cortava a trilha
dum caminho tortuoso,
mas que mesmo tortuoso
parecia mais seguro
que a morada dos pobres
na rua de baixo.

(Acerca de la calle cae el árbol
consumido en llamas maleducadas)

A folha que se entregou
não se entregou tanto
quanto se entregaram
os famintos,
que em fome se alimentaram
da maçã caída
na terra.

Ergueram suas mãos
feito para-raios
e a natureza
os atravessou
como se fossem
alguns por cento água,
uma vida inteira
miséria.