12 de maio de 2023

Tudo Meio Horrível, de Nathalie Lourenço

Desde a primeira vez que li Nathalie Lourenço que tive a certeza de que estava diante de uma escritora para se prestar atenção. A habilidade de criar contos constrangedores e imagens aterradoras e descaradamente tragicômicas vista em poucos de sua geração justifica esse olhar mais detido e cuidadoso.

Nathalie não reinventa a roda, mas a faz parecer bem mais atraente e divertida. Utilizando-se de formas e estéticas do conto clássico (de Maupassant a Cortázar) confere atualidade e um humor desavergonhado que te faz se sentir deslocado por rir das pequenas tragédias que narra.

A linguagem e descrições precisas (como em Profs) fazem desses elementos parte integrante do que e de como se conta, amplia suas personagens, atiça sensações e ativa reações sem apelar ao grotesco, e nenhum problema se o fizesse, ou à mesmice.

O livro mantém uma qualidade constante, sem oscilar tanto entre os altos e baixos, sendo generoso em temas, tramas e personagens, e traz um retrato cínico, debochado e verossível da contemporaneidade, suas obsessões e desatinos. Contos como Entre Paredes, Horário Nobre, A namorada turca, Peso em Ouro e Dentro do Vidro, para além de confirmaren a qualidade e sagacidade da autora, exemplificam bem o que dissemos. Todos situados no espaço urbano da classe média, reconstruindo ambições, intinerários, banalidades e cordialidades cínicas de homens e mulheres autocentrados, pequenos, egoístas e ordinários. Uma gente inusitada e assustadoramente comum colocada em situações ridículas, e que, na maioria das vezes, está tão próxima a ponto de a identificarmos ou ainda nos reconhecer.

Recomendadíssimo.