Juventude sem Deus, de Hödön V. Horváth
Publicado em 1938 na Holanda – pois foi proibido na Alemanha -, a obra foi traduzida pela primeira vez, em 2024, para o Brasil pela Editora Todavia. Incrível como um clássico da língua alemã tenha passado tantas décadas para chegar aos leitores brasileiros. Para o escritor Stefan Zweig, Hödön é um dos mais talentosos escritores de sua geração; já para o Handke, o autor é melhor que Brecht.
No romance, acompanhamos a crise de consciência de um professor que leciona Geografia e História em plena ascensão do nazismo no território alemão. Depois de ler em uma redação escrita pelo aluno N que todos os negros são traiçoeiros, covardes e vagabundos, ele fica abismado. Depois de fazer um comentário em classe de que os negros também são seres humanos, no dia seguinte a turma faz um abaixo-assinado pedindo que ele seja desligado da profissão, e os pais do N tiram satisfação com o professor e com a direção escolar.
Após o ocorrido, ele começa a ficar em observação pela inspetoria, enquanto é colocado para acompanhar a turma em um acampamento, que na verdade é uma espécie de treinamento pré-militar, onde as crianças aprendem sobre os detalhes de uma guerra, desde a sua participação, e até mesmo a sobreviver em tempos de conflitos. Nesse acampamento, algo de terrível acontece, e todas as estruturas familiares, sociais, hierárquicas, políticas, morais, éticas e de consciência são colocadas à prova.
É incrível como em poucas páginas o Horváth consegue imprimir reflexões sobre o período de crescimento e de determinação do Terceiro Reich, caracterizado principalmente pelo regime totalitário com o controle do partido nazista, liderado por Adolf Hitler. Muitos grupos sociais eram perseguidos ou monitorados, caso dos professores, que eram obrigados a ensinar aquilo que convinha ao Estado. Além de tudo isso, a sociedade, repetia o que era constantemente transmitido pelas mídias, e com as crianças que compõem o romance escrito por Ödön não é diferente.
A obra me fez lembrar duas: o clássico Senhor Das Moscas, escrito por Holding, e publicado pela Alfaguara; e O Crime do Bom Nazista, obra do brasileiro Samir Machado, publicado pela Editora Todavia. Quem já leu alguma dessas duas obras, certamente verá algumas conexões.
“... todo mundo é capaz de tudo.” (p. 130).