6 de fevereiro de 2021

A poesia de Yuri Martins-Fontes

Yuri tem formação em filosofia e história, além da literatura, desenvolve atividades como pesquisador, tradutor, professor e jornalista. É autor de livros sobre cultura latino-americana, pensamento contemporâneo, e de traduções literárias e teóricas. Publicou também poemas, crônicas, contos, ensaios e dramas. Atualmente finaliza uma primeira narrativa extensa, cujo mote é longaviagem pelos interiores de quatro continentes, em transportes públicos, por terra e água. Na poesia, desde os 1990 participa de saraus e declama; teve trabalhos selecionados e expostos em mostras de vídeo-declamação, antologias poéticas e revistas literárias.

Silêncio da Roça

O silêncio da roça não é sepulcral
Dogmático, positivista
Nada de absoluto

É um silêncio brando
Amante e artista…
Um silêncio que se escuta
– Vívido, pulsante

Um calar estrelado
O rio – o coaxar abafado
Besouros batucando a janela

Um silêncio existente
Pleno em dizeres e à toa
Mas de uma fala que não fere
– Ruído que não atordoa.

*

Língua viva

No casario velho
dos cesários verdes
se aquecem do inferno
pessoas e versos.

As bocas e rimas
temperam seu metro.
Beija o parnaso
na língua o moderno.

*

Três artes

– Quem és
que buscas
o que sabes fazer?
(perguntaram ao andarilho à porta da cidade):

– Saber sei jejuar
sei refletir…
sei esperar.

Busca
a do rio que vai.

Meu nome se apagou nas quedas
me diziam Liberdade.