12 de julho de 2017

A poesia de André Ricardo Aguiar

André Ricardo Aguiar, nascido em Itabaiana-PB, residente em João Pessoa, tem publicado diversos livros entre poemas, contos e literatura infantil. Autor de A idade das chuvas e Fábulas portáteis (Patuá). Na literatura infantil publicou O rato que roeu o rei (Rocco) e Chá de sumiço e outros poemas assombrados (Autêntica), ambos selecionados pelos PNBEs para as bibliotecas estaduais Brasil afora. Participa do Clube do conto da Paraíba.

 

ALUGUEL

Vivo numa casa chamada
corpo, que não quitei

e que perambula, serpente
de atalhos, daí meu endereço

quase em bote, nunca é o
mesmo: a casa em que

habito embora durmo ao
relento, pois quanto mais

me fecho, mais fora fico
de mim, a casa que a duras

penas sou eu, a casa de berço
e de cova, futura ruína

em que pergunto de mim,
à porta.

 

*

 

EXPERIÊNCIA

Tão minério o amor
tão funda a mina
que o funda.

Tão mineiro o amor
quieto, granada mansa
ao adormecer.

E saímos com os bolsos cheios
de perdas
preciosas.

 

*

 

CV

Observo
o currículo vitae
dos lugares que queria viver:

experiência com ventos
prática de arquivamento de estações
datilografia com chuva
capacidade de comunicação imediata
com o melhor de mim

mistérios, alguns, em pastas
acessíveis por ordem de chegada

cursos avançados de rios
simpósios e palestras com a alma
universal das estrelas

gostaria de empregar imediatamente
meu paraíso