5 de julho de 2017

A poesia de Thais Monteiro

Thais Monteiro, nascida em São Jose dos Campos em 1983, mas criada em São Paulo permeando seus espaços periféricos como São Bernardo e Santo André, onde cursou Letras na Fundação Santo André e iniciou sua trajetória literária.  Em 2010 tem seu primeiro poema “Borboletinha da Capital” publicado na revista eletrônica organizada pelo poeta Fabiana Calixto. No mesmo ano, muda-se para Belo Horizonte para cursar Estudos Literarios pela UFMG. Seus trabalhos estão disponíveis em seu blog “Minimalidades” e em seu coletivo feito em 2012 intitulado “Uma Espécie de Bazar”. Tem poemas publicados no zine Amendoim de Belo Horizonte.
Todo trabalho pessoal pode ser acompanhado no www.minimalidade.com.br e o coletivo citado especiedebazar@wordpress.com

 

borboletinha da capital.

angelita compôs a introdução
no bandolim
escolheu entre dois refrões
um que falava de
botânica
libertária
e outro de
amor
romântico
mandou o e-mail passionnée
para papillon da banda cover
insectusuicide
tomou banho com óleo de nectar
natura da vizinha
e foi trabalhar no atendimento
produto: redinhas
na volta ainda pensou
em bordar no jeans
sobre a mancha da caneta
uma ópera rock 90's
pra abafar o som
histerifônico
das mariposas industriais
no transporte público
algumas apostilas
aspirada a planar alta
no concurso público
da monarca
e ter em qualquer jardim
uma mosaicultura
e colocar na merenda da segunda
e última crisálida
um ensopatinho de margaridas
pra depois costurar
o paraquedas em seda forte

 

*

 

Teresina em Sao Jose
Ao Carvalho Neto

eu aqui não vejo amigos
ando vazio
pelas dimensões do dia
no fim da Cassiano Ricardo

Vejo passaros pardos
Vejo o pisar antigo
Samba de arritmia
o batuque, o fastio

Recomeço no arduo
calcanhar obliquo
Vista Verde de alegoria
Tua Banda Bandida

Me diga a cor da ressaca
o fim do perigo
o barracão de cor opaca
o Parnaiba o S. Francisco

Desta terra em linha fraca
Traço contigo
Carnaval e carne magra
a quaresma o teu ressono

a minha cega
batalha

O meu nome
O Teu nome
Torquato
e a Fanfarra
ao fim da
Jose Longo

 

*

 

Confete de Neon

a
cor
desta manhã
e uma mera questão
de um confete que caiu
das mãos de um bêbado careca
que entornou o copo no colo da moça
que virou a cabeça e se desfez nas cores
de seus amores que caiu na calçada que não
foi nem um pouco amada ou editada na critica sensual
desta rodopiante carnaval a costurar tais opiniões
a dizer como foi o dia de ontem a por nas
têmporas certos gatilhos quimicos
a fazer um abalo sismico na
certeza que todos
simplesmente
são os
tolos

 

 

 

*

 

Monolito

Chegou-se um tempo que todas as gamas de sentimentos possíveis foram quebradas nos életrons, nas voltas do núcleo, num buraco de minhocas, no sustentável giro de um átomo.
Chegou-se um tempo que som de uma voz foi reduzido à vibrações que saem da garganta, sempre, cansada e retorna no martelo surdo, no clique que ignora o chamado.
Chegou-se um tempo que o olhar virou um susto, o olhar virou o desvio, o pedido virou incômodo.
Chegou-se um tempo que o tempo virou a dobra de um relógio comprado por uma variante do bolsa de valores em Nova York, quando o bolsista, angustiado, precisou sair pra comer na Times Square.
Chegou-se um tempo que a música virou a sacudidela da cobradora que, cansada, sentiu-se nada quando, e, num século seguinte, o cientista não soube desviar o cálculo que colidira no núcleo do Planeta do vendedor de hot dogs que perguntou as horas, meio entediado, para o bolsista da Times Square que casou com a cobradora do coletivo Santana cuja o jornal estampa o desastre na Marginal Tietê, notícia essa que comoveu o boy ao lado do vendedor de cachorro quente da Times Square.