27 de junho de 2016

A leveza de Juanjo Sáez

Um assunto que é recorrente em todo o tipo de contexto é a dita "incapacidade de compreender arte", seja por causa de uma suposta dificuldade da própria obra, seja em função de um desconhecimento geral da história da arte.

Complexo mesmo é transmitir ao dito "público comum" a noção de que a arte pode ser apreciada sem um grande conhecimento prévio – ouvimos música, vemos filmes, vamos ao teatro, sem, necessariamente, conhecer a história de cada uma dessas áreas. Por que, então, seria necessário conhecer toda a história da arte para visitar um museu?

Juanjo Sáez, em seu A Arte (conversas imaginárias com a minha mãe), desenha – literalmente – a explicação sobre a razão pela qual é, sim, possível, para qualquer um, entrar em um museu e sair emocionado/incomodado/entretido/feliz.

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O quadrinho, publicado em 2013, pela WMF Martins Fontes, traça um percurso (percurso é uma palavra de extrema importância ao se falar em história da arte) por visões distintas, por vezes até contraditórias, presentes ao se estudar a história da arte. E Juanjo Sáez é didático, profundamente claro, ao explicar, ao evidenciar a razão pela qual é possível apreciar uma obra de arte sem ser um especialista. E o que torna o livro brilhante é a forma como o autor o faz.

Ao colocar no título do livro a frase "conversas imaginárias com minha mãe", Sáez destaca o papel central de sua mãe (imaginária) na história, e concentra nas falas dela, ao longo do livro, as perguntas comuns de quem não está habituado a enfrentar questões de natureza artística, as perguntas, dúvidas ou incertezas daqueles que não se sentem confortáveis dentro de um museu simplesmente por não terem "conhecimento suficiente" sobre do tema.

Além disso, o autor coloca em seus desenhos, sempre de forma simples, mas precisa, as ideias e obras principais de artistas fundamentais da modernidade artística, desde os mais célebres, como Warhol, Picasso e Dalí, até outros menos conhecidos do público, mas ainda assim absolutamente essenciais, como Tàpies ou Chillida.   

O grande questionamento que permeia o livro, a grande questão que inunda as páginas, é o porquê do afastamento do público geral da arte, uma vez que todos têm relações com música, cinema, esportes, muito embora poucas das pessoas conheçam verdadeiramente a história desses assuntos.

Sáez também, a partir disso, dirige uma crítica às instituições e aos artistas, enormes responsáveis por criar e manter essa "aura" que afasta o público geral e conserva o status de elite intelectual.

Por meio de desenhos simples, o autor apresenta, explica e questiona obras e artistas, mas também introduz ao leitor, de forma sutil, discussões mais profundas, tais como qual é a função da arte? ou aonde termina a liberdade do artista?.

A importância do livro reside justamente em sua simplicidade, em sua capacidade de transmitir ideias sem grandes empecilhos, de transformar conhecimento em entretenimento, sem, contudo, desvalorizá-lo. A Arte de Juanjo Sáez é, sem dúvida, um livro essencial, que deveria ser lido por todos. É preciso instaurar o hábito de visitar museus e conviver com a arte em um público geral, que, por sua vez, já ouve música ou assiste a filmes. Por que não visitar museus, galerias, exposições, por que discutir se um filme é ruim, mas não se a obra de um artista é de valor?

Juanjo Sáez deveria ser lido em escolas, por alunos jovens, uma vez que seu livro é introdutório e, de certa forma, elementar. Talvez assim fosse possível fornecer às crianças os instrumentos para que, no futuro, a arte fizesse mais sentido, e, dessa forma, não permanecesse distante, inexplicável e praticamente inexistente aos olhos de um público que pode, sim, conviver com ela, desde que a conheça. Assim, podemos todos sonhar com um mundo mais ponderado ou humanizado, características escassas na frieza que rege a atualidade.