14 de outubro de 2014

A poesia de Michelly Jardim

 Lôasua prece quieta
ocupa um lugar
entre o começo de Deus e o fim do seu corpo

não sofre tanto.
porque te secas e te porto
e te janelas e tempo e bruma
e raízes

o nome
onde ainda procuro sua causa.
e porque não encontro
não posso te esclarecer as mãos, os olhos
constantemente desaguando

não doa tanto, branca
não sofra tanto
por que não sou suficientemente santa
nem sou tão leve
pra te fugir as coisas retas, os seus tumultos

tento uma palavra que te salve
mas não tenho no nome Maria ou ave
essas que aproximam qualquer substância
dos santos pela simplicidade
por também existirem
entre Deus e o chão. revoando.

e não te salvar
me morre um pouco.

deito no seu ventre e
entrego o que tenho de imaculado:
minha existência líquida.
me seco
como se nessa travessia
habitasse salvação.

*

da cura

a palavra é tentativa de ser:
janela, baía.
ser movimento que recebe águas
tentativa de milagres
cultuar o que a mão não toca
de molhar as securas

e porque a boca insiste em coisas magras
verbos sem claridade
ensaio leveza
falo como quem reza

comer o amargo
saber isto, de ser rebento de um ventre-água
e viver o chão
sentir da pedra o que não é pedra
acolher o chão a crença
as agonias dos pés que andam de fé e falta
cuidar o peito imediato
aquele outro que não foi feito em mim, e me habita
entender as coisas brancas.
isto, permanecerá.

tento a palavra Deus. rogo:
o que amo, Deus, quando meu olho não vê em pedra muito
mais que pedra?

que faço Deus, se não sou de sua imagem?
me apego aos santos? murmuro palavra-purificação?
tu deixou o verbo no início.

és santo porque és longe. sagração das distâncias.
e me escapa pelas mãos.

por Michelly Jardim