25 de setembro de 2014

Ninfo

Ela terminou de tomar banho e foi se enxugar. A toalha passeava pelo corpo despreocupadamente quando o atrito entre as pernas a fez sentir algo mais. Não soube o que era na hora, não tinha maldade, apenas uma educação conservadora que não a deixava nem ver novela. Tinha nove anos.

Aos treze, procurando no dicionário o significado de uma palavra qualquer para concluir a redação da escola encontrou a palavra porra. Passou a procurar muitas outras do mesmo universo e descobriu que as palavras tinham o poder de atiçar a sua imaginação. Passava horas com o dicionário.

Aos quatorze, menstruou e as colegas de sala, todas já mocinhas, disseram que agora ela já podia namorar. Não conseguiu associar uma coisa a outra, a mente ainda não tinha desencasulado, mas os livros de biologia falavam de hormônios e ciclo menstrual, gravidez e sistema reprodutor.

Aos dezesseis, beijou pela primeira vez, ela quem tomou a iniciativa, não aguentava mais esperar. Sentiu uma cosquinha boa na barriga, vontade de mais, de passar a mão onde a vó desmaiaria só de pensar. Passou, gostou, repetiu. Aos 17, não era mais virgem.

Leu toda a literatura proibida antes de completar dezoito: Primo Basílio, O crime do padre Amaro, Lucíola, O cortiço e a obra completa de Jorge Amado. Decorou na teoria e se pôs a colocar na prática. Descobriu o corpo, suas entranhas e o pompoar. Tinha uma versão ensebada no Kama Sutra que levava dentro da mochila do colégio para o caso de surgir uma oportunidade para usar. E sempre surgia. E ela nunca dizia não.

Aos 23, descobriu a palavra ninfomaníaca, um amante lhe jogou na cara perversamente. Tirou a própria vida alguns minutos depois.