17 de junho de 2014

Adriano

 

 

Adriano era um menininho de cabelo carapinho, que era meu vizinho, e que vivia com o nariz-torneira a escorrer catarro amarelado. Sempre com o pé no chão, só depois me contaram porque a barriguinha de Adriano era tão para frente: mamãe disse que era cheinha de vermes. Adriano tinha um cheiro de sol e suor que eu gostava demais, e Adriano era meu melhor amigo. Sempre quando brincávamos do jogo das tampinhas, e eu estava ganhando, ele dava um murro bem forte nas minhas costas e corria para a casa dele, que era uma casinha tipo de barro, caindo os pedaços. E eu ia chorando para casa e minha mamãe dizia: “você não vai mais brincar com aquele moleque imundo!” – mas era mesmo que nada. No outro dia, eu mal tirava os sapatos e a farda do colégio e já saía correndo, com meu boneco de menino branco nas mãos, para chamar Adriano para brincar de correr no meio da rua. Ele brincava com meu boneco que girava a cabeça e eu era todo encanto com o robô dele, que era feito de caixa de leite vazia. Mas aí, um dia, que era de tarde, chegou um carro preto no final da rua e jogou o Adriano dentro, feito um porco, e ninguém nunca mais viu o Adriano. E o pai e a mãe dele choraram muito, mas Adriano nunca mais voltou pra casa. Minha mamãe disse que teria que arranjar outro amiguinho para brincar, que eu poderia escolher, mas nenhum deles tem o cheiro de sol e suor que só Adriano tinha.