29 de abril de 2014

Cândido

 

Cândido nasceu gordinho: quatro quilos e duzentos gramas.  Do leite materno ao leite especial, que só deixou de tomar quando bem quis. A lancheira, ainda nos primeiros anos da escola, despertava a inveja dos amiguinhos de classe: achocolatado suíço, barras de cereais, guloseimas e suquinho de morango.  Ainda na pré-adolescência, tinha uma rotina forçadamente cheia: curso de música, aulas de inglês e francês; além de esportes, sendo estes aos finais de semana. Ganhou o primeiro carro antes mesmo de sair do ensino médio, pois só ficara para recuperação em oito das doze disciplinas do segundo para o terceiro ano, o que era um grande feito no currículo escolar de Cândido- se considerado aos anos anteriores. A primeira namorada não suportou a relação por muito tempo, pois as agressões físicas estavam ficando cada vez mais fora de controle. Ela até denunciou aos órgãos responsáveis pela integridade da mulher, mas é que me esqueci de falar sobre o cargo que o pai de Cândido ocupava dentro do cenário sócio-político fortalezense, desculpem-me.

Um trabalho (ou melhor, a farsa deste) já acertado para o começo do ano no gabinete de um deputado federal; um carro importado e cheirando a novo, que era seu xodó, recém-chegado ao Brasil; uma vida promissora de luxo, farras e facilidade.

Acontece que, numa noite de sexta-feira, uma semana antes da viagem pela Europa, que há três meses estava marcada, na qual iria meramente com o intuito de comprar blusas de grife e observar as novas tendências dos veículos europeus, Cândido foi ‘vítima’ de um assalto, no qual reagiu, sendo morto com sete facadas no meio da Avenida 13 de Maio. Tudo isso porque Cândido não entendia que o mundo não era só seu, e se foi sem saber se de Ouro ou Prata seriam as letras que bordariam seu nome na lápide da sua catacumba.