7 de março de 2014

Entrevista com Mailson Furtado

Mailson Furtado mora em Varjota, sertão do Ceará, é dramaturgo, poeta, contista, cronista e acadêmico do curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará – UFC. Até o momento, publicou dois livros Sortimento, livro de poemas, e Conto a conto. O multi-artista vem revolucionando a cultura local com seus projetos de incentivo às artes cênicas e literárias. Conversei com ele via e-mail sobre arte, vida pessoal e projetos futuros.

Léo Prudêncio – Como surgiu a Companhia de Teatro Criando Arte?

Mailson Furtado – Em 2005, fui convidado a participar de penetra em um grupo de teatro em Varjota, que em minha opinião foi quando ingressei na vida pública. O grupo montou um espetáculo durante 3 meses e apresentou este em 2 oportunidades, findando logo depois. Não tinha noção do quanto aquela arte tinha me conquistado, e assim senti necessidade de continuar a praticar teatro. Na época, era membro do Grêmio Estudantil da escola e nossa plataforma abordava fortemente a Arte. Assim eu e Ronaldo Araújo, grande amigo e gremista também, tivemos a ideia de criarmos um festival de teatro na escola, para assim montarmos um novo grupo. A escola funcionava em 3 turnos e decidimos que o festival seria interturnos. Fiquei responsável por um turno, Ronaldo por outro e Magnel Carvalho por outro, no entanto, o turno que Ronaldo organizava não rendeu e tivemos que nos unir para montar um grupo só. Daí ficava desinteressante um festival com apenas 2 grupos, entra em ação uma figura importantíssima dentro de minha carreira, enquanto artista, o ator e poeta Demis Santana, hoje residente em Maceió, tendo a ideia de transformar o evento não em uma mostra de teatro mas numa Mostra Cultural, surgindo a Mostra de Cultura, Diversão e Arte de Varjota, o maior evento cultural da cidade até hoje, que reúne todos os grupos locais em um só evento. E a partir daí, o espetáculo Loteria 2 2 2 foi um sucesso, que foi meu primeiro texto, e não conseguimos parar mais.

L. P. – Quais os dramaturgos que mais lhe influenciam?

M. F. – Em minha trajetória como dramaturgo, tive poucas influências, afinal, digo com sinceridade que comecei a escrever dramaturgias e a fazer teatro, fazendo e não estudando, assim minha primeira bagagem teatral veio principalmente da prática. Com o passar do tempo, a exigência de teoria e conhecimentos técnicos é exigido e não dá mais para continuar leigo no assunto, caso queira crescer na área, ainda assim, grande parte do meu conhecimento teatral, veio de leituras individuais. No entanto, neste momento [2006-2008], eu já havia produzido algumas obras que versavam sempre sobre uma crítica social ao capitalismo, com uma comédia excessivamente irônica, partindo meio ao surreal, fantasioso e infantil, tais características vieram da influência que sofri da obra de Chaplin e do mexicano Roberto Bolaños. Com os estudos, vim a mudar ou experimentar outras características, como o teatro épico de Bertold Brecht e principalmente o teatro do Oprimido de Augusto Boal, que hoje, sem dúvida, é minha maior influência. O teatro de rua e teatro regional do Nordeste, principalmente a influência Armorial, movimento criado por Ariano Suassuna, é a minha marca atual, embora permaneça com minha característica inicial, a crítica social.

L. P. – Há limites entre o teatro e outros gêneros literários?

M. F. – Com certeza não. A beleza do teatro está justamente nessa possibilidade de experimentação que o mesmo oferece, não apenas com gêneros literários, mas com gêneros artísticos. Assim poemas, prosa, músicas, quadros podem ser dramatizados, coisa que outras artes não conseguem fazer de uma maneira tão explícita e completa.

L. P. – Quais as conquistas que a CIA de teatro de vocês já ganharam?

M. F. –A principal conquista, digo sempre, é a possibilidade de eu estar aqui 8 anos depois de sua criação contando a sua história de uma forma ativa e não apenas como memória, enfim, a principal conquista, sem dúvidas, é a nossa resistência a esse mercado, curtíssimo, principalmente aqui no sertão cearense há quase uma década. A possibilidade de termos nos apresentado nos grandes centros cênicos do estado e em grandes festivais, como visitar inúmeras cidades, são outras conquistas, onde levamos sempre o nome de nosso lugar. Quanto a títulos, ano passado, 2013, tivemos a felicidade de receber uma comenda de Moção de Congratulação pelas atividades que já realizamos na cidade, ofertada pela Câmara Municipal de Varjota e este ano já recebemos com grande alegria o título de Destaques do Ano de 2013, com o troféu Carlos Câmara, na categoria Interior, prêmio este que é o Oscar do teatro cearense e com grande orgulho recebemos.

L. P. – Você também transita entre outros gêneros como a poesia e o conto, mas qual dos gêneros literários você costuma escrever mais?

M. F. –Com certeza, entre verso, conto e dramaturgia, o que mais me conquista é o verso. Digo que sou bem mais poeta, que contista ou dramaturgo. Sem dúvidas, o verso é a modalidade que mais me identifico.

L. P. – Como surgiu a ideia do seu primeiro livro, o Sortimento?

M. F. –O Sortimento surgiu em 2007, ano que mais produzi literariamente, sendo uma fase que marca muito meu trabalho enquanto poeta. Dessa grande produção, veio a necessidade e o sonho de publicar uma obra e assim o Sortimento nasceu. O nome do projeto nasceu por conta da minha vertente eclética que adquiri enquanto poeta, onde ganhei influências desde a escola arcádica até a moderna e pós-moderna, onde em sua grande parte minha obra ainda hoje é, daí sortimento.

L. P. – O seu segundo livro, Conto a Conto, possui escritos recentes ou é uma mistura de períodos?

M. F. –A maioria é recente, e foram construídos justamente para o livro, alguns não, em outros a construção é recente, porém a ideia não. Enfim, ele é mesclado.

L. P. – Você participa do grupo literário Pescaria, pode nos falar um pouco sobre ele?

M. F. – O Pescaria é uma das mais novas experiências que estou podendo desfrutar e sem dúvida, uma das melhores, enquanto autor. A ideia de criar um grupo literário veio quando eu e meu amigo Erasmo Portavoz, também membro do grupo, fomos à Bienal do Livro, em Fortaleza, e notamos a necessidade que nossa cidade possuía de ter um movimento literário consolidado, como já existia no teatro, dança e capoeira, assim surgiu a ideia. Dentro dela, veio outra ideia, essa para editoração de um jornal literário, que carregaria o nome do grupo. O jornal tomou forma e teve sua 1ª edição lançada em março de 2013, embora o grupo, não. E assim a ideia foi esfriando, embora o jornal tivesse sendo produzido e distribuído e já na sua quarta edição. A ideia inicial do grupo era de reunirmos na praça da Matriz da cidade, coisa que não deu certo e nenhum encontro aconteceu, até que em uma conversa informal com Felipe Ximenes, grande amigo e também membro do grupo, marcamos certo dia, de debatermos literatura, artes, filosofia na margem do Rio Acaraú e chamamos na oportunidade outros amigos, ainda sem imaginar que o Pescaria surgiria. Foi um sucesso nossa primeira pesca, como chamamos nossas reuniões e na outra semana o grupo estava formado, onde construímos as ideias, objetivos. Assim somos um grupo não somente de produção literária, mas de estudos também. E em apenas 4 meses de grupo, o Pescaria já realizou 2 eventos literários em Varjota, participou de 2 exposições, já fora de Varjota, visitou já 3 cidades para eventos literários e a cada dia recebe menções sobre o trabalho realizado. Além do jornal, onde divulgamos nosso trabalho, há o blog Pescaria, ao qual os convido a conhecer neste link http://opescaria.blogspot.com .

L. P. – Quais são os projetos futuros que você tem pra realizar?

M. F. –Tenho inúmeros projetos de gaveta, alguns até prontos. De início, estamos em montagem de um novo espetáculo com a CIA Criando Arte, onde pretendemos circular a região novamente, este que deve ter novamente elementos Armoriais e ser um pouco metalinguístico, afinal, pretendemos falar de arte dentro da montagem, abordando elementos circenses e de outras vertentes artísticas. Planejamos iniciar a montagem em meados de abril e iniciar a circulação no segundo semestre deste ano. Literariamente, estou com algumas obras prontas, uma delas em Poesia Concreta e Neoconcreta intitulada Versos Pingados, que pretendo encaminhar a editoras o quanto antes. Há também um trabalho de dramaturgia, que é uma antologia de três obras minhas, chamada Criando Arte no Teatro, a qual não tenho planos de lançar agora. Estou na produção de um romance, que talvez termine este ano, embora pretendo estudá-lo ainda bastante ainda de pensar numa publicação e estou com um trabalho histórico com meu amigo Erasmo Portavoz sobre as manifestações artísticas dentro da história da cidade de Varjota, projeto que está em andamento e pretendemos lançar em 2016. Claro, sem esquecer do Pescaria, onde ainda este ano queremos montar uma antologia poética com as obras dos pescadores do grupo, projeto ainda não iniciado, mas que tenho plena confiança que dará tudo certo. No mais, é isso.