5 de dezembro de 2013

Só é preciso algumas doses de influência

the lonesome giant  - graham franciose

Ele estava com a barba por fazer há semanas.

- Por que não corta essa barba?

- Acho que nós precisamos nos desapegar desse mundinho que estamos habituados, saca?

- Não saco. O que é isso?

- Um ukulele – respondeu. – E começou a dedilhar o instrumento com os olhos fechados.

Ela ficou observando aquilo por alguns segundos como se estivesse enxergando algo estranho.

- Eu conheci outro cara, SACA?

- O amor é assim, deve ser compartilhado.

Ela suspirou irritada e foi até a geladeira pegar uma cerveja. Quando voltou ele estava completamente pelado no sofá.

- Que porra é essa?

- Isto é a natureza. Você não saca a natureza?

Ela estava sentindo aquela vergonha alheia. Aquela que sentimos quando vemos algum imbecil fazendo algo imbecil. Afinal, ele sempre odiou toda aquela postura ativista-hippie-sustentável-amo-todo-mundo. Até ler uma reportagem onde afirmavam que isso era uma tendência. Esse era o fato que ela não engolia. Saber que ele não era aquilo.

Ficou mamando sua cerveja esticada no sofá, refletindo sobre o quanto as pessoas são influenciáveis.

Acabou a bebida e arrumou suas coisas.

- Tchau, pra ti. Enfia esse uku... enfia esse troço na bunda.

Saiu batendo a porta.

Ele deitou-se no chão. Pegou o instrumento e o encarou com um olhar meio duvidoso.

Sorte que ela já havia indo embora.

por Eduardo Stelmack*

* é gaúcho de Porto Alegre, acadêmico de Comunicação Social e autor do blog de minicontos Todo ContoConta Tudo.Todo ContoConta Tudo.