3 de junho de 2013

Entrevista com Ricardo Thomé

Ricardo, você sente uma necessidade interior de escrever?Sim, acho que todo mundo que escreve, que pinta, que compõe, todo artista, enfim, o faz por uma necessidade interior, uma vontade de expressar o inexprimível, de tentar impor alguma ordem ao nosso caos interior.

Você acredita que existe um distanciamento total entre escritor e obra?

Não. Em maior ou menor grau, de modo mais, ou menos, explícito – ou camuflado –, estamos sempre ali, naquilo que produzimos. O que não quer dizer, evidentemente, que eu compactue com todos os atos e idéias de meus personagens. Mas seja pela afirmação, ou pela negação, por uma empatia, ou pela falta dela, cada personagem representa uma faceta da minha forma de entender e de enxergar o mundo.

Fazer literatura no Brasil é complicado?

Complicadíssimo. Se você não tem um padrinho poderoso e nem participa das chamadas ‘panelinhas’, só com muita sorte você vai conseguir um lugarzinho ao sol.

Sua obra envolve poesia, dramaturgia e romance. Como é transitar entre gêneros diferentes?

Normal. São formas diferentes de você expressar aquela tal ‘necessidade interior’. Se tivesse de me definir, diria que sou um poeta que se mete a fazer ficção, vez ou outra.

Em A resposta e o vento, percebe-se que não há um personagem mais importante que outro, mas há uma ligação entre todos. Essa trama envolve paixões e solidões. Você acredita que o homem é formado, fundamentalmente, por esses dois sentimentos?

Mas a solidão é um sentimento ou uma condição¿ Ou um pouco dos dois¿ Eu acredito que, parafraseando Sartre, nós somos aquilo que fazemos do que fizeram de nós. Ou que permitimos que fizessem de nós. E isso, é claro, envolve nossas paixões, nossos medos, nossos sentimentos mais secretos.

Há, no romance, um retrato da sociedade moderna. Muitas ideias estão postas como se fossem necessárias serem discutidas. Você acredita que, de alguma forma, o seu romance leva à reflexão¿ Você escreve já com esse intuito? De marcar o leitor? De fazê-lo sentir para refletir?

Espero, sinceramente, que sim. Ficaria muito decepcionado se minha literatura fosse encarada apenas a partir do seu aspecto de entretenimento. É isto também, claro, mas se ela não suscitar no leitor alguma espécie de incômodo, de espanto, então não vale nada, é perfeitamente descartável. Mas pelo retorno que tenho recebido (e que não é muito), acho que tenho logrado êxito nesta empreitada, sim.

Nessa mesma obra, a maioria dos personagens possuem, em maior ou menor grau, questões relativas com a sexualidade. Algo que perturba certa parcela da sociedade. Você acha que o leitor brasileiro está preparado para obras que discutem de alguma maneira isso, ou não?

Olha, alguém já disse que o ser humano, consciente ou inconscientemente, pensa em sexo 70% do seu tempo e que gasta os outros 30% tentando não pensar nisso (rs). Evidentemente que a sexualidade é um prato cheio – e indispensável – a todo aquele que quiser se debruçar sobre esta coisa tão misteriosa chamada ‘essência humana’. E, hoje, neste nosso mundo tão absolutamente multimidiático, nada mais choca, tudo é perfeitamente assimilável.

Quanto ao mercado editorial, acredita que as editoras estão ficando mais receptivas para novos escritores?

Sinceramente, não saberia responder. De minha parte, só sei dizer que, se você tiver grana, uma boa parcela das editoras vão naturalmente abrir suas portas para você. Quanto às grandes editoras, minha experiência é a pior possível. Acho que há um desrespeito enorme da parte delas para com nós, escritores (excluindo, é claro, os chamados ‘figurões’), uma relação de subserviência com a qual, honestamente, não tenho, e nem nunca tive, saco para compactuar.