7 de março de 2022

A Morte e a Donzela, um clássico do teatro moderno, de Ariel Dorfman

A Morte e a Donzela, um clássico do teatro moderno escrito pelo chileno Ariel Dorfman, é um dos mais contundentes retratos do momento posterior às ditaduras militares da América Latina e suas feridas abertas por mortes e torturas cometidas pelos mecanismos de repressão. Em três atos eletrizantes, narra o encontro entre Paulina, que havia sido torturada e repetidamente estuprada na prisão, com um de seus algozes, o médico que acompanhava e participava das sevícias. Entre os dois está o marido, advogado de direitos humanos que acaba de ser nomeado para integrar a comissão governamental de investigação dos crimes da ditadura chilena.

A peça está sendo publicada pela CARAMBAIA, com tradução de Sérgio Molina, introdução de Elie Wiesel – defensor de direitos humanos, sobrevivente do Holocausto e Prêmio Nobel da Paz de 1986 – e posfácio do próprio Dorfman. A Morte e a Donzela teve diversas montagens em todo o mundo. No Brasil, foi encenada em 1993 com direção de José Wilker, tendo Xuxa Lopes, Tony Ramos e Otávio Augusto no elenco. No ano seguinte, Roman Polanski dirigiu a versão cinematográfica com Sigourney Weaver, Ben Kingsley e Stuart Wilson.

O título A Morte e a Donzela é emprestado do Quarteto de Cordas nº 14 em Ré Menor de Franz Schubert, a música favorita do médico, que, numa demonstração de cinismo cruel, era tocada durante as sessões de tortura. A peça musical retorna no momento do reencontro entre vítima e algoz, de maneira quase fortuita. O enredo opera uma engenhosa inversão de papéis, quando Paulina consegue subjugar o médico.

O pano de fundo é a redemocratização do Chile depois da ditadura de Augusto Pinochet e a tímida reconstrução histórica do período anterior. Naquele momento após a eleição do presidente civil Patricio Aylwin, em 1990, Pinochet se mantinha no comando das Forças Armadas, e a elite econômica continuava sendo a mesma que colaborara com a ditadura. As investigações sobre os abusos contra os direitos humanos se encontravam, portanto, dentro de limites estreitos. Provavelmente se restringiriam aos mortos pela repressão, deixando de lado os que sobreviveram, com profundas cicatrizes físicas e psicológicas, como as deixadas em Paulina.

É essa a discussão entre ela e o marido, enquanto o médico, em situação de completa vulnerabilidade, aguarda seu destino nas mãos da antiga vítima. Instala-se um julgamento diante da plateia, levada por Dorfman a se posicionar. Ainda que o autor, com isso, tenha escolhido, em termos dramáticos, tomar distância estratégica dos acontecimentos, ele descreve no posfácio a reticência com que o espetáculo foi recebido num país politicamente fraturado – reação que só começou a mudar quando a peça se tornou um êxito internacional.

Ariel Dorfman nasceu em 1942 em Buenos Aires. Quando ainda bebê sua família se mudou para os Estados Unidos e em 1954 para o Chile. Estudou e depois deu aulas na Universidade do Chile. Foi assessor cultural do presidente socialista Salvador Allende entre 1970 e 1973, ano do golpe militar que instalou a ditadura pinochetista. Dorfman se exilou nos EUA, onde deu aulas de literatura e estudos latino-americanos na Duke University. Retornou ao Chile com a redemocratização, em 1990. A Morte e a Donzela foi escrita naquele ano. É a primeira parte de uma trilogia composta ainda pela peça Leitor, adaptada de um conto de sua autoria, e o romance Viúvas, depois levada ao teatro em parceria com Tony Kushner.

Autor de diversas outras peças, romances e ensaios sobre política e direitos humanos, Dorfman colaborou com organizações como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch. Hoje, com sua esposa, divide o tempo entre o Chile e os EUA.

O volume faz parte da coleção Ilimitada, voltada para autores que ainda não caíram em domínio público e tem tiragem de acordo com a demanda. A capa da edição da CARAMBAIA é de Fernanda Ficher e reproduz a tela Hedda Gabler, da série Ibsen, da artista plástica Tatiana Blass.

 

Ficha Técnica

Título: A Morte e a Donzela
Autor: Ariel Dorfman
Posfácio: Elie Wiesel
Tradução: Sérgio Molina
Projeto gráfico de capa: Fernanda Ficher
Imagem de capa: Tatiana Blass
Número de páginas: 112
Lançamento: março/2022
Acabamento e encadernação: Capa dura com laminação e serigrafia
Valor: R$ 69,90 | R$ 48,90 (e-book)