3 de janeiro de 2022

Marina Tsvetáeva e a experiência com o tempo

PONTOEDITA publica antologia inédita da poeta russa, uma das principais do século 20

 

Marina Tsvetáeva (1892–1941) é uma das vozes poéticas mais relevantes do século 20. Avançada para os padrões de sua época, ela vivia para a literatura de maneira única e original e, assim como Zelda Fitzgerald (1900–1948) e Virginia Woolf (1882–1941), tornou-se um símbolo da mulher moderna que soube construir um modus operandi literário todo seu. Escrever, para Tsvetáeva, era uma necessidade vital, a possibilidade de uma vivência em consonância com aquilo que lhe dá sentido. Além de possíveis fontes autobiográficas, destacam-se, em seus poemas, elementos do folclore russo, do romantismo alemão, das mitologias grega, latina e bíblica, referências históricas, ecos de Aleksandr Púchkin, Wilhelm W. Goethe, Charles Baudelaire, Rainer Maria Rilke, Boris Pasternak, dentre outros. 

A antologia inédita que a PONTOEDITA lança agora em edição bilíngue conta com intervenção poética do cantor e performer São Yantó, capa do artista visual Pedro Monfort e texto inédito de Ariadna Efron, filha de Tsvetáeva, sobre o processo criativo da mãe. A seleção criteriosa realizada por Verônica Filíppovna, doutora em Teoria Literária e pesquisadora de literatura russa na UFRJ que assina também a tradução e a apresentação desta antologia, lança mão do rigor acadêmico para expor o público brasileiro a toda a potência criadora da poesia de Tsvetáeva (uma potência que conquistou a admiração de nomes como Caetano Veloso e Décio Pignatari, além do privilégio de ser traduzida pelos irmãos Campos, uma distinção reservada a poucos). O resultado é uma coletânea breve que consegue apresentar em pouco mais de 60 poemas as várias fases de Tsvetáeva.

Entre esses poemas estão tanto aqueles escritos na Rússia quanto os produzidos durante os anos em que Marina Tsvetáeva viveu em Berlim, Praga e Paris e depois de seu retorno à União Soviética. Sua obra poética, elaborada a partir de reminiscências, frustrações e do cotidiano pessoal e familiar, transita entre a memória, o sonho e certa espiritualidade e, sendo tão multifacetada quanto ela própria, testemunha o percurso de uma poeta que, desde a infância até o suicídio, viveu intensamente cada circunstância e atribuiu sentido à sua vida através da escrita.

O projeto editorial autoral propõe ao leitor uma forma de explorar o tempo da poesia, desde a escolha do cantor e performer brasileiro São Yantó para a intervenção poética de abertura até escolha de um poema como título: “Aos meus versos, escritos tão cedo, quando eu nem sabia, eu – poeta, a jorrar, como pingos da fonte, como faíscas de um foguete, a pular, como pequenos demônios, no santuário, onde há sono e incenso, aos meus versos de juventude e de morte – versos nunca lidos! – espalhados por estantes empoeiradas, onde ninguém os pegou e nem os pegará, chegará a sua hora”. A homenagem ao álbum “When the pawn…”, da cantora Fiona Apple, sugere que, dali em diante, o leitor estará entrando num universo em que a temporalidade é de outra natureza. O título, evidentemente, também sugere uma crítica à cultura dos 15 segundos e, ao estender substancialmente o tempo do leitor com o livro em mãos, convida-o a explorar o tempo das pausas próprias da linguagem poética. Trata-se, portanto, de um livro para se ler devagar, no tempo da poesia. 

O projeto gráfico da edição da PONTOEDITA tira proveito de um conjunto de decisões que amplificam a potência sensorial da poesia de Tsvetáeva. As texturas dos papéis da capa e do miolo e até mesmo do fitilho marcador, de gorgurão azul, convidam o leitor a pensar o próprio livro como objeto poético. A experiência tátil ganha outras camadas com a arte da capa, especialmente nos tons de cor, texturas e paisagens: criada pelo artista visual Pedro Monfort, a fotografia é uma escultura do tempo e remete aos instantâneos do diretor de cinema soviético Andrei Tarkóvski. A escolha da Soyuz Grotesk para a composição do título traduz a ambivalência da poesia inconforme de Tsvetáeva, que não se encaixava em nenhum grupo ou movimento de sua época. Criada em 2017 pelo tipógrafo russo Roman Gornitsky para a The Temporary State, a Soyuz é uma releitura de uma adaptação da Helvetica para o alfabeto cirílico feita na década de 1960. 

 

“Aos meus versos, escritos tão cedo… chegará a sua hora” é o livro no. 6 da PONTOEDITA.

 

Ficha técnica

Título: “Aos meus versos, escritos tão cedo… chegará a sua hora”
Autora: Marina Tsvetáeva
Seleção, tradução e apresentação: Verônica Filíppovna
Intervenção poética: São Yantó
Imagem da capa: Pedro Monfort
ISBN 978-65-991898-4-5
Idiomas: Português/Russo
Dimensão: 14 x 23,5
Acabamento: capa dura com papel texturizado e fitilho de gorgurão
Edição:
Ano de publicação: 2022
Número de páginas: 192
Valor: R$121,90 (desconto de 20% de 20% na pré-venda R$97,52)

Venda no site da editora: pontoedita.com

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