21 de outubro de 2021

Vozes de Batalha é o novo livro de Marina Colasanti

Em "Vozes de Batalha", a escritora recupera a trajetória da cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni, sua tia-avó.
Casada com Henrique Lage, Gabriella foi personagem-chave no cenário cultural carioca da primeira metade do século XX.

Uma das mais premiadas escritoras contemporâneas, a ítalo-brasileira Marina Colasanti chega à Editora Planeta com Vozes de Batalha, publicação inédita que mistura elementos de romance e memoir, lançada pelo selo Tusquets. A partir de memórias pessoais, documentos e entrevistas, a autora reconstitui a vida de sua tia-avó, a cantora lírica italiana Gabriella Bensazoni, que, entre tantas turnês mundiais, escolheu o Rio de Janeiro para criar raízes. Em 1925, ela casa-se com o empresário brasileiro Henrique Lage, fã de ópera e música, e um dos homens mais ricos do país de então. Juntos, conceberam a famosa mansão do Parque Lage, um dos maiores cartões-postais da cidade, e ajudaram a moldar um efervescente cenário cultural na capital federal da primeira metade do século XX.

Filha de Manfredo e neta de Arduino - irmão de Gabriella - Marina Colasanti mudou-se para o Rio de Janeiro em 1948, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Quando aqui chegou, foi morar na Villa Gabriella, palacete que Henrique havia construído para sua amada. Na época, o magnata brasileiro já havia falecido e Gabriella e outros herdeiros encaravam o começo de uma longa batalha judicial pelo espólio, que envolvia importantes agentes do país e terminaria por forçar a volta de Gabriella para a Itália anos depois. A autora relata em detalhes a vida de solteira da tia-avó, em turnê pelo mundo como contralto - Carmen era seu grande papel -, a trajetória de Henrique e sua família, a vida do casal, a viuvez de Gabriella, a construção da residência e, claro, o encantamento que teve ao ver pela primeira sua tia-avó, a qual chamava de tia, uma mulher à frente de seu tempo: "Havia, porém, algo especial em Gabriella. Uma imponência no peito farto de cantora que surgia como tulipa dos quadris estreitos, uma determinação na coluna a prumo, uma altivez na maneira de posicionar a cabeça. Pele branca de quem nunca tomara sol, batom vermelho-sangue, olhos maquilados intensamente negros, cabelo repartido ao meio com rigor. E as mãos resplandecentes de diamantes. Tudo nela era exato, superlativo, sem hesitação", narra no começo do livro.

Para além do ambiente íntimo da Villa Gabriella, onde Marina e seu irmão Arduino (nomeado em homenagem ao avô) exploravam as belezas naturais da floresta ao redor e os objetos de Gabriella, como uma impressionante coleção de joias e figurinos, a autora apresenta também um momento pulsante da cidade do Rio de Janeiro. Ela conta como a tia-avó e o marido organizavam festas e recitais beneficentes, estimulavam a música erudita e as artes no Brasil e como Gabriella chegou a fundar um conservatório em sua casa, onde dava aulas de canto. Sem uma linha cronológica clara, navegando de forma livre por fatos, personagens e fantasmas de sua vida, Colasanti faz um retrato afetivo de sua juventude, vivida ao lado de uma das mais emblemáticas figuras do Rio de Janeiro: "Fundia o privado com o público, a vida pessoal com o trabalho, a casa com a escola, e encharcava tudo com as próprias emoções", comenta sobre Gabriella.

Para 2022, Colasanti já tem agendado um próximo lançamento na Editora Planeta: uma reedição da coletânea de artigos E por falar em amor, publicada pela primeira vez em 1985.


Trechos do livro

"Este livro é o cumprimento de uma promessa nunca feita. É meu testemunho de gratidão. É a narrativa da intimidade entre mim e minha tia-avó, que sempre chamei de tia. São fatos que habitaram minha vida. Posso dizer que é um livro da família."

"E pensei que era assim, então, aquele Brasil tão esperado. Feito desse clima e desse cheiro, habitado por esses sons. Me ajeitei embaixo do lençol sabendo que, enfim, havia chegado. Ouvi o ruído distante de um bonde. E, como quem desmaia, adormeci."

"Mas eram ambos ousados e idealistas e, muito acima das diferenças, estavam unidos por sua paixão pela música, pela dedicação de cada um deles a seu trabalho e pela admiração plena que tinham um pelo outro."

Sobre a autora

Marina Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, capital da Eritreia. Residiu em Trípoli, na Líbia, mudou-se para a Itália e, em 1948, transferiu-se com a família para o Brasil, onde vive até hoje, na cidade do Rio de Janeiro. Formada artista plástica, Marina já atuou como jornalista, apresentadora de televisão, publicitária e tradutora. Como escritora, possui mais de sessenta títulos publicados, incluindo livros de poesia, contos, crônicas e ensaios, além de infantojuvenis. É uma das mais premiadas escritoras brasileiras, detentora de vários Jabutis, do Grande Prêmio da Crítica da APCA, do Melhor Livro do Ano da CBL, do prêmio da Biblioteca Nacional para poesia e de prêmios latino- -americanos, tornando-se hors-concours da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Marina é casada com o também escritor Affonso Romano de Sant'Anna, com quem teve duas filhas, Fabiana e Alessandra Colasanti.

Ficha técnica

Título: Vozes de batalha
Autora: Marina Colasanti
Páginas: 304
Preço: R$ 54,90
Selo Tusquets
Editora Planeta