Memórias de Mama Blanca sai pela Oficina Raquel
Clássico da literatura latino-americana, Memórias de Mama Blanca é lançado no Brasil, celebrando a obra da escritora Teresa de la Parra
A escritora Teresa de la Parra é até hoje considerada uma importante voz da literatura venezuelana. Com pais venezuelanos, de origem aristocrata, estudou em Madrid e, já na escola, tomou gosto pela atividade da escrita. Dentre os seus mais elogiados trabalhos está Memórias de Mama Blanca, lançado agora no Brasil pela editora Oficina Raquel.
A história se dá em torno das lembranças de Blanca Nieves, que narra em primeira pessoa passagens da infância vivida na fazenda Pedra Azul, antes de sua família mudar-se para Caracas. Filha do dono da fazenda, Blanca (e suas cinco irmãs) recebe tratamento de “princesa” em Pedra Azul, local que conta com engenho de cana, curral, jardim, pomar, cachoeira – sendo, assim, oferecido à sua família uma vida de total bem-estar; e, ao leitor, um ambiente bucólico, de sonhos, nostalgia e também conflitos.
Por meio das lembranças de Blanca, compreendemos inclusive questões de classe, raça, gênero e religião que permeiam as relações em Pedra Azul; quando, por exemplo, a narradora compartilha com o leitor detalhes da vida de um trabalhador da fazenda, Vicente Cochocho. Homem que descende de negros e indígenas, Vicente é normalmente menosprezado no vilarejo por sua aparência, bem como por tentar utilizar conhecimentos populares para cura de enfermos, além de ser repreendido pela mãe de Blanca, Carmen María, que, muito católica, não aceita que Vicente viva harmoniosamente com duas mulheres e insiste para ele se casar na igreja.
Há também Evelyn, a governanta, “uma mestiça inglesa da Ilha de Trindad”, encarregada dos cuidados com as meninas. Em um dado momento da obra, a narradora evidencia que Evelyn maltrata Vicente por questões de raça, como se visse nele algo que não consegue acolher em si mesma – mostrando-nos, assim, as facetas cruéis e dolorosas do racismo e os caminhos coloniais pelos quais a história dos povos deste continente é atravessada.
Também a mãe é constantemente evocada, com Blanca reforçando sobretudo o lado doce, amoroso e gentil de Carmen María, enfatizando o papel reservado às mulheres na esfera doméstica, apesar de por vezes compartilhar momentos em que mãe assume um temperamento mais acalorado.
Mas todo esse ambiente de afetos, vida ao ar livre, próxima dos animais e da natureza, com variadas frutas, histórias e lembranças fica para trás quando a família se muda para a cidade de Caracas. Dessa maneira, De la Parra perpassa também absurdos da vida urbana, no que se trata dos espaços, dos hábitos e das dores da “civilidade”, conforme define a narradora. Ao compartilhar suas idas à escola, Blanca mostra até mesmo a forma violenta sob a qual a educação se constitui, revelando episódios brutais do processo de alfabetização dela e das irmãs. É em meio a uma infância de travessuras, abundância e privilégios que a história se delineia, portanto, através de um texto ao mesmo tempo delicado e potente de Teresa de la Parra. E, ao localizar a obra na fazenda de cana-de-açúcar, a escritora perpassa ainda a história latino-americana, seus atores e dilemas, mostrando inclusive os apagamentos, violências e privações que preponderam sobre alguns sujeitos, especialmente os esquecidos. E se o esforço de Blanca é para lembrar e, assim, fazer os protagonistas de sua vida reviverem, também De la Parra aciona memórias – de um povo, múltiplos territórios, distâncias, proximidades e seus narradores.
Título: Memórias de Mama Blanca
Autor: Teresa La Parra
Tradução: Lizandra Magon Almeida
ISBN: 9786586280685
Formato: 12 x17 cm
Acabamento: Brochura
Páginas: 176p.
Preço: R$49
Editora: Oficina Raquel
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