26 de julho de 2021

Infinitos, de Leo Cunha e Alexandre Rampazzo

Infinitos pode ser para muitos apenas mais um lindo livro ilustrado - não tem como ler a poesia das palavras do Leo Cunha unida a poesia das ilustrações do Alexandre Rampazo e não achar isso.

Mas Infinitos falou comigo e me tocou de tal jeito que eu demorei um bom tempo pra conseguir escrever sobre ele. Sempre acontece isso quando esbarro com um livro sobre o relacionamento entre avó e neta e as memórias que ficam.

“Mari amava a avó até não poder mais” e, assim sendo, amava a tatuagem que ela tinha no pescoço. Depois de descobrir que se tratava do símbolo do infinito, Mari, como toda criança, precisou de algo concreto pra tentar entender o que era aquilo.

“- Vovó, cem é mais do que infinito?
A avó achou engraçada a pergunta e respondeu como quem conta um segredo.
- Não, Mari, infinito é mais do que cem.
- Não, infinito é mais.
- Não, querida. Infinito é mais do que tudo!
- Mais do que tudo?
- Isso mesmo.”

Depois disso, Mari passa a enxergar o infinito em tudo que é lugar. Livros, roupas, muros, e quando não conseguia guardar o infinito, ela o fotografava, na intenção de sempre compartilhar com sua avó.
Até que um dia a partilha já não é mais possível e o tamanho da saudade rivaliza o da coleção de infinitos de Mari. Ali, Mari decide que quando crescer vai fazer uma tatuagem igualzinha a da vó, porque seu amor por ela é infinito e um!

A história acaba e a gente segue passando as páginas ainda pensando na conclusão da Mari. Passando pela bio do autor e do ilustrador, a gente chega à segunda orelha, que contêm as dedicatórias do dois.

“Aos encontros infinitos,
Abraços infinitos.
À esperança infinita.”

Dedica Rampazo.

E resumo que o livro é sobre isso. Cada história contada que segue reverberando, cada objeto que abrigue a memória da minha avó, é algo que me proporciona encontros e abraços infinitos, mesmo que ela não esteja mais por aqui. A tatuagem que fiz em homenagem a ela, onde agradeço pelo infinito que ela me proporcionou enquanto podia, ao lado dos naipes do baralho que ela me ensinou a jogar e jogávamos madrugada a dentro, só as duas na cozinha quando não conseguíamos dormir. O anel de formatura que foi dela e depois meu, já que compartilhávamos a mesma pedra. Algumas frases de efeito, a oração que ela mandava eu repetir sempre que eu saía de casa, mesmo sabendo que eu não compartilhava da crença dela (e que eu repetia até quando ela não falava, mesmo sem compartilhar da crença dela).

Tudo isso é o infinito abstrato que a Mari criança não conseguiu entender, e enquanto ela busca em tudo o infinito concreto, ela alimenta o infinito que construiu com a avó.