1 de maio de 2021

Mergulho ou Pouso?

Leitores do clube LiteraturaBr puderam fazer um mergulho profundo na obra com a participação da autora

O 3º encontro do clube de leitura do LiteraturaBr teve a obra Pouso, de Ágnes Souza, publicado pela editora Moinhos, com a participação especial da autora. O bate-papo contribuiu para um entendimento da obra a partir da sua criadora.

Autora e leitores puderam compartilhar impressões do livro, tirar dúvidas e ainda conhecer o processo de escrita da Ágnes. Das referências que ela citou no encontro e foram suas principais inspirações literárias foram Ana Guadalupe, Ricardo Aleixo, Natasha Felix, Cecilia Floresta, Tatiana Nascimento, Marilia Garcia, Matilde Campilho.

Pouso é um livro de poesia que já chama atenção pela capa, um mergulhador solitário e o título Pouso. Uma dialética, em que pouso está ligado à aterrisagem, à firmeza, ao solo, o equilíbrio, onde tudo se vê, se alcança e contempla, sair dos ares e cair em si. O voo do mito de Ícaro que não encontrou no mar, terreno para que pousasse à salvo e este mar o carregou. Assim, o mergulhador adentra nas profundezas de um espaço líquido, movediço em constante turbulência, carregado de mistério, silêncio e seres estranhos, um lugar e em que o corpo tem que buscar o equilíbrio em si e não na água para poder retornar à terra firme.

Dessa dicotomia que a poeta apresenta ao público as formas com que somos preparados (ou não?) para encarar o amor. Um desafio proposto ao ser humano para enfrentar as vicissitudes que oferecem os sentimentos, enquanto outros lidam com eles com mais racionalidade, mais “pé no chão”. Em Pouso, Ágnes convida o leitor a sair de seu lugar comum, da sua “zona de conforto e segurança” a adentrar na imprevisibilidade, a se arriscar em um novo ambiente e para isso implica em escolhas, mergulho ou pouso?

Falar de amor é falar de ápices e buracos, altos e baixos, voos e aterrisagens, é subir ao céu e mergulhar fundo no mais profundo de si, no seu oceano interior. Para isso, o poema “Amar uma mulher” é uma constante, em que cada verso ela nos convida a enxergar que devemos amar uma mulher por vez, mas ao final devemos amar todas as mulheres, a mulher que está na mãe, na amiga, na tia, na filha, na travesti, na companheira, na lésbica, na hétero, em todas as mulheres possíveis. Dessa maneira, ela abre o livro com o poema “Amar uma mulher”, pois não se trata de um artigo definido A Mulher, mas UMA Mulher que pressupões uma sequência delas, que poderiam ser enumeradas pelo artigo indefinido, e nomear todas seria indefinidamente impossível. Ou teríamos várias mulheres em uma?

Neste poema, podemos enxergar que são várias as mulheres, uma crítica à cultura machista, e se mostra um poema antagônico, porque ela não nomeia, mas revela as mulheres que temos na vida. Então, quantas delas couberem na sua vida, é esse o desafio de amar cada uma delas como se fossem únicas. Amar com responsabilidade é amar com cuidado, como encerra seu poema “amar uma mulher/ quantas vidas me couber/ amar uma mulher”.

Inicia o livro com poemas curtos e finaliza com poemas longos, observam os leitores do clube durante o encontro. Há uma propositalidade nisso, a autora vai transitando entre o amor e o fazer poético, brinca com neologismo Roseano como “chegança”, depois entra da matemática da vida onde os números perdem sentido e “o lance de abdicar perfeição nem sempre funciona/e carne moída tá pela hora da morte”, a insegurança, a instabilidade e as incertezas predominam, novamente, adentramos nesse oceano turbulento e percebemos o mergulho poético que ela nos conduz.

O mergulho a faz retomar às origens, buscar algo perdido “todo amor nasce do umbigo”, o amor egocêntrico que se desprendeu ainda no cordão umbilical ou o laço materno que se rompeu quando se faz esse mergulho sozinho nas águas da placenta, para si unicamente, ou caberia uma piscina ou seria raso demais a ponto de...”Se tu escrevesse a palavra piscina no teu/ umbigo/eu pularia sem medo de dar com a cabeça na/cerâmica.” Os poemas longos ao final da obra são aqueles que consideraria profundos talvez, em que quanto mais fundo melhor o mergulho, sem risco de quebrar a cabeça, enquanto os poemas curtos seriam rasos, objetivos demais, diretos e racionais, feitos na certeza de que não há abalos movediços sob os pés e se é possível caminhar sem medo.

Ágnes faz um convite ao leitor para um mergulho ou um pouso, entre nadar ou voar, é só uma questão de escolha, mas em cada uma o desafio está dado, cabe descortinar como se descobrisse o que está dentro de você e ainda não descobriu.

A Autora

Pernambucana, nascida em junho de 1992, é mestra em teoria da literatura e doutoranda em teoria da literatura pela UFPE. Tem Sol e Vênus dividindo o mesmo lugar. Publicou seu primeiro livro re-cordis (2016) pela Editora Moinhos. Também publicou poemas em revistas eletrônicas, no Brasil, como a Ruído Manifestto (SP), e em Portugal, como A Bacana.

Conheça o Clube do LiteraturaBR

O que é o clube LiteraturaBR de poesia?

Um clube para falar, ler, discutir e conhecer a poesia. Com esta proposta foi lançado o clube para que pessoas que gostam de poesia e não encontram espaço para discutir fora do ambiente acadêmico.  Para 2021, a ideia de abrir o clube pelos curadores do site LiteraturaBR é exatamente unir pessoas que amam ler poesia possam compartilhar a experiência de leitura e as impressões que a obra trouxe a cada uma.

Como funciona? Como participar?

O interessado em participar se cadastra no site do LiteraturaBr www.literaturabr.com e recebe por e-mail todas as informações do clube, tais como: qual será o livro do mês, onde adquirir, datas, cupom de desconto, link do encontro etc.

A escolha do livro é anunciada com antecedência aos leitores que se cadastraram no clube e aberta a sugestões dos integrantes. A obra escolhida garante ao membro cupom de desconto exclusivo para compra no site da editora da obra.

O encontro agendado acontece virtualmente via Meet Google. A participação no clube é livre e gratuita.

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