15 de abril de 2021

Rinha de Galos: realidades invisíveis

Segundo livro do clube de assinatura Tortilla teve um encontro entre leitores e a autora equatoriana

Em uma tarde de sábado de abril (03/04), aconteceu o segundo encontro virtual dos leitores do clube Tortilla que foi marcado pela presença e participação de Maria Fernanda Ampuero, autora do livro do mês Pelea de Gallos traduzido no Brasil como Rinha de Galos. A equatoriana Maria Fernanda Ampuero não escondeu a emoção e a alegria de estar dividindo um momento tão especial de uma discussão coletiva sobre seu mais recente livro com os mais de 30 leitores presentes na live.

Ampuero relatou sobre o processo de escrita da obra, os personagens, sua história de vida, infância e relação com o livro. A autora já adianta que os contos são um retrato de vivências captadas da sua experiência, de cenas do cotidiano, dos noticiários que ajudaram a construir as narrativas.

Os leitores puderam enviar perguntas a autora, e questionada sobre a presença dos animais em todos os contos, ela afirma que “los animales são mejores que nosotros”, para a autora destaca o lado animal do ser humano como uma forma de denúncia, que esta não representava uma metáfora ou algo simbólico, mas representa um mundo perigoso, e melindroso.

Suas principais referências literárias ela destaca os nomes de alguns escritores brasileiros dentre eles, Ana Paula Maia, Cora Coralina, Clarice Lispector, e citou a obra Meu pé de Laranja Lima como primeiro livro brasileiro que teve contato. Na sua escrita ela menciona as influências da literatura de terror, do fantástico, obras como O Iluminado, de Stephen King e o Conto de Oscar Wilde, O fantasma da de Canterville.

Estendendo ainda mais o papo, não poderia deixar de ser colocada na pauta sobre a presença de estrangeiros e sua literatura no Brasil e vice-versa. Ressaltaram a importância do Brasil reconhecer os escritores latino-americanos em vez dos europeus, e reconheceram a dificuldade desse processo devido a apropriação pelo mercado editorial espanhol das obras latinas-americanas.

Após o bate-papo com a autora, os tortilleros do clube continuaram a debater sobre o livro e uma das principais impressões e foi unanimidade que o livro é de leitura rápida e prazerosa, por serem os contos curtos o que acaba por ser uma leitura rápida mesmo com o forte impacto que ela reverberou na maioria do grupo.

O grupo ainda destacou as aproximações da narrativa de Ampuero com a literatura de Rubem Fonseca, Patrícia Melo e Marco Severo. Podemos destacar da obra a forte relação com a violência, como que um ciclo sem fim ainda que o último conto do livro deixa transparecer a ideia de uma esperança na contramão do conto Luto.

OS contos de Ampuero são retratos de realidades invisíveis de uma marginalidade escondida por trás da violência humana, psicológica e física, não importando se se trata de uma criança, um idoso ou até mesmo de um animal. São 108 páginas de puro soco no estômago do leitor, é preciso ser forte para tentar escapar de um para adentrar no próximo, naquela expectativa intensa que a narrativa nos conduz e imediatamente nos mergulha de forma profunda no seguinte sem deixar um respiro de fôlego.

Rinha de Galos foi lançado pela editora Moinhos, com tradução de Silvia Massimini Felix que também participou da live e relatou como foi o processo de tradução da obra. Silvia expôs o quanto a linguagem utilizada por Ampuero foi bem planificada, uniforme, sem muitas oscilações e gírias. O que tornou a tradução leve e fluida, a linguagem direta e objetiva também foi percebida pelos leitores do clube. A obra inédita no Brasil saiu primeiro pelo clube de assinatura de literatura latino-americana, Tortilla, uma parceria das editoras Moinhos e Mundaréu, que bimestralmente apresentam ao público da “facción literaria brasileña” obras pouco conhecidas da literatura hispânica. A partir do mês de abril, o livro vai estar disponível para venda no site da editora Moinhos - https://editoramoinhos.com.br/

A autora

Maria Fernanda Ampuero, nascida no Equador (1976), escreve narrativa de ficção e não-ficção. Pelea de Gallos (Rinha de Galos, no Brasil) foi seu último lançamento e recebeu o prêmio de livro do ano do The New York Times em Espanhol, prêmio Joaquín Gallegos Lara 2018 como melhor livro de contos do ano e já teve várias traduções. Considerada um dos 100 nomes latinos mais influentes da Espanha, país em que mora desde 2005.

Sobre o Clube Tortilla

As editoras Moinhos e Mundaréu se uniram e criaram o primeiro clube de livros dedicado à literatura hispânica (América latina, Caribe e Península Ibérica) sob a curadoria de Nathan Matos e Silvia Nascheveng. Os títulos escolhidos são publicados por uma das editoras curadoras do clube sempre com lançamentos exclusivos por meio do clube.

O clube nasceu no final de 2020, em plena pandemia sanitária do Covid-19, que conseguiu unir leitores ávidos por compartilhar, mesmo que à distância, as delícias de uma facción literaria do primeiro livro do clube, Temporada de Furacões, de Fernanda Melchor, já disponível no site da editora Mundaréu (https://editoramundareu.com.br/product/temporada-de-furacoes/)

Tão rapidamente, integrantes do plano anual do clube se uniram no grupo do Telegram, e não cansam de falar em outra coisa senão do melhor da literatura estrangeira proporcionado pelo Tortilla, além do tradicional dilema das tapiocas dobradas e enroladas, fazendo jus ao nome do clube.

Tortilla é um clube de assinatura que o leitor escolhe o plano e recebe bimestralmente um livro latino-americano. Para saber mais e qual melhor plano para entrar nessa facção cujo o único crime é ser leitor. Acesse o site www.tortillalivros.com.br

Para receber o livro do mês, é preciso assinar o plano até o dia 10 de cada mês.

Livro do mês de abril do Clube Tortilla

O próximo livro já foi anunciado pelos curadores e o título confirmado é O País da Canela, de William Ospina.

Uma narrativa épica do sobre a violenta aventura de descobrimento do Amazonas, no século XVI, e a disputa entre os conquistadores espanhóis Francisco de Orellana e Gonzalo Pizarro. “Não se sabe quem anda mais extraviado, se quem persegue bosques vermelhos de canela ou quem busca guerreiras amazonas nuas, se quem sonha com cidades de ouro ou quem vai no rastro da fonte da eterna juventude: nascemos, capitão, numa idade estranha em que só nos é dado acreditar no impossível, mas buscando essas riquezas fantásticas terminamos todos transformados em pobres fantasmas.”

Segundo os curadores, “Ospina é um autor contemporâneo que, mimetizando as crônicas da conquista espanhola, consegue estender a sombra da ganância insana dos conquistadores à realidade atual da América Latina.”