10 HQs de 2020 para se ler no Natal
Júlia: o caso do criminólogo assassino, Giancarlo Berardi, editora Mythos. O primeiro volume da saga de Júlia em graphic novel, traz histórias inéditas da personagem da aclamada série italiana. A narrativa traz o começo de Júlia Kendall ainda era estudante para se tornar uma detetive. No início do curso, Júlia é escalada para desvendar um misterioso assassinato em uma convenção de profissionais de criminalística. A graphic Júlia saiu no Brasil em capa dura, colorida (diferente da série anterior no formato italiano em p&B).
Sunny – vol. 1, Taiyo Matsumoto, editora Devir Brasil. O primeiro volume do selo Tsuru traz vários contos de um orfanato japonês. O mangá retrata a vida de um grupo de crianças e adolescentes deixadas no abrigo pelos pais que vivem suas angústias, inseguranças, revoltas e o sentimento de abandono. O nome da HQ se deve ao carro antigo abandonado que fica no quintal do jardim de infância onde as crianças o usam como local de refúgio para seus momentos de tristeza ao se depararem com a realidade de que seus pais não retornarão para buscá-las. A HQ é de leitura oriental, capa e sobrecapa mole e algumas páginas internas são coloridas, miolo da narrativa toda é em p&b.
Bojeffries: a saga, Allan Moore e Steve Parkhouse, editora Devir. A HQ traz vários contos de humor negro de uma família no mínimo, curiosa. A narrativa conta a saga da família de Jobremus Bojeffries, em que ele tenta manter a aparente normalidade de sua família para a sociedade, sendo que nem tudo transcorre como gostaria. São todos estranhos, mas isso pouco importa para um pai de família em busca do bem-estar de seus entes. Ginda é a jovem caçula, adolescente e com uma brutalidade nada feminina. A família também tem um tio vampiro, que vive e dorme em seu caixão eternamente. Em resumo, a HQ traz várias aventuras com humor e crítica social. HQ capa dura, miolo intercala histórias em P&b e coloridas.
Fala, Maria: um romance gráfico sobre o autismo, Bernardo Fernández (Bef), editora Skript. A graphic narra a história de um casal que mora no México e descobre que sua primeira filha tem autismo. A saga da narrativa é exatamente o relato do pai de Maria sobre a dificuldade em entender o que se passava com a sua filha, até descobrir um profissional e uma instituição que ajudassem os pais a entender o que se passava com a pequena Maria. Uma HQ autobiográfica narrada do ponto de vista do pai da garotinha que descobre depois dos 40 anos que também possui traços de autismo de que não sabia ser portador, daí a chave da grande dúvida que o perseguia. Mas o alívio dele é saber que a filha acima de tudo poderia ser feliz e ter sua vida tranquila e normal como toda criança, bastasse que os tratamentos terapêuticos auxiliassem na melhoria de seu desenvolvimento. Uma história emocionante e esclarecedora sobre a TEA.
Vida de Gato, Serge Baeken, editora DarkSidebooks. Vida de gato são histórias de vidas de gatos. Um casal apaixonado por gatos adotam seu primeiro pet e tragicamente o perde na sua primeira fuga de casa, a partir daí vários outros gatos surgem ao longo da narrativa entre encontros e desencontros e contemplamos pelas imagens sequenciadas as histórias da vida privada desses bichanos. São vários gatos dentre sem raça definida até as raças mais conhecidas, percorrem as páginas dessa graphic. Cada história é como um conto felino, sensível, surpreendente e cheio de aventuras. Ao final um gatálogo de arte de vários gatos, raças e poses, que animal cheio de personalidade são esses felinos que nos encantam suas diabruras. HQ toda em P&B, praticamente sem muitos balões, afinal gatos não falam, mas te olham como se te falassem tudo de forma óbvia e objetiva.
Degenerado, Chloé Cruchaudet, editora Nemo. Graphic novel biográfica baseada no livro La Garçonne et l’assassin, de Frabrice Virgili & Daniele Voldman, premiada em 2014 no Festival Angoulême como melhor álbum e no grande prêmio da Associação de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos francesa, em 2013. A narrativa se passa no anos 10 do início do século 20, ambientado num contexto da primeira guerra mundial, Paul e Loise recém casados enfrentam a separação por conta da convocação de Paul para a guerra. Paul deserta durante a guerra e carrega consigo traumas que vão assolando sua vida como um foragido da guerra. O casal se reencontra em Paris e se refugia num quarto de hotel. Paul cansado de viver na clandestinidade resolve trocar sua identidade e assume um novo gênero. A partir daí sua vida muda por completo em todos os sentidos, aos poucos a relação com a esposa se torna insustentável até que é assassinado por ela. A narrativa começa e termina relatando todo o processo de transformação vivido pelo personagem e sua esposa sendo relatado em um tribunal durante o julgamento de Louise. As facetas obscuras de uma época sombria e machista são a pauta dessa HQ em que o travestismo é considerado abominável ainda numa Paris dos anos 20, considerada como referência da liberdade artística, sexual e de vida.
A solidão de um quadrinho sem fim, Adrian Tomine, editora Nemo. Um quadrinho que narra a trajetória profissional do quadrinistas autor de “Intrusos”. Adrian Tomine relata situações vividas profissionalmente mesmo sendo um artista bem sucedido, mas nem tudo são flores. O mais interessante na HQ é a edição publicada no formato de um sketchbook com miolo quadriculado reproduzindo a obra original, capa dura, elástico e fitilho. Alguns balonamentos sobrepostos atrapalham a leitura, autor omite com algumas tarjas nomes conhecidos durante a narrativa para não revelar de quem está falando. Fã de Frank Miller, ele mostra as agruras de conviver com o drama de uma disputa acirrada pelo reconhecimento de seu trabalho enquanto via com frustração as filas quilométricas em eventos, de fãs de Neil Gaiman para autógrafos, que nunca chegaram a cinco fãs reais de seus quadrinhos. A graphic novel é mais uma biografia lançada pelo Nemo, algumas ideias e conceitos, discordei como a definição que ele dá para graphics novels, o que incomoda ao longo da narrativa por repetidas vezes que ele tenta explicar que seus quadrinhos são graphics e estas são narrativas voltadas para adultos. Traço singelo, bem dinâmico e leitura fluida. O que impressiona mesmo é a HQ publicada em formato sketchbook, o que diferencia de todas publicações lidas até hoje.
Querida Liga da Justiça, Michael Northrop e Gustavo Duarte, DC Comics/Panini Comics. A HQ faz parte da série garphics novels para crianças (Graphics Novels for Kids) facilmente encontrada em bancas de jornais publicada em formatinho, toda colorida. A narrativa traz histórias em que os principais super-heróis da DC Comics são colocados para responderem perguntas de jovens fãs, uma inusitada situação contemporânea, em que fãs conseguem contatá-los via redes sociais ou correspondência os seus principais heróis para lerem suas cartinhas virtuais ou escritas. Os heróis têm que ser honestos em suas respostas, não podem mentir ou inventar situações não existentes que enfrentaram. Bem-humorada a HQ é deliciosamente divertida, uma ou outra resposta de um herói pode não te cativar tanto, mas dúvidas sempre existirão, afinal a HQ mostra que os cabeças pensantes instigam também seus heróis a pensarem as situações da vida.
Maxwell, o Gato Mágico, Allan Moore, editora Pipoca e Nanquim. Muitas editoras lançaram em 2019 obras antigas de Allan Moore, e a Pipoca e Nanquim não ficou para trás e trouxe Maxwell, o gato mágico. Uma obra totalmente cartunista, onde traz as histórias do gato que caiu no mundo de pára-quedas de uma espaço-nave. Uma HQ com todas as tiras do gato mágico publicadas no jornal britânico Northants Post, entre 1979 a 1986. Com muito humor e crítica traduzem a essência das tiras de Moore. De todas as leituras de HQs de 2019 essa está sendo a mais divertida, excelente leitura para relaxar e olhar para seu pet e imaginar o que ele está pensando quando olha para você? A edição tem muitos extras incluindo uma galeria de artes de desenhos do gato Maxwell. Tirando a sobrecapa, capa dura preta com hotstamping em dourado traz um brilho no olhar de ver tamanha beleza que ficou a edição.
Paracuellos, Carlos Giménez, Comix Zone, traz a história de diversas crianças órfãs, abandonadas ou de família pobre que vivem sob o mesmo teto no Auxílio Social, algo que foi criado na época da Guerra Civil espanhola. Esse volume traz os 4 primeiros livros de 8 que foram produzidos sobre a história de Paracuellos. O Auxílio Social que se apresenta nesta história não possui nada de fraterno. Os padres, freiras, funcionários que surgem como devotos de uma religião se mostram os mais podres seres humanos. Aqui, a ideia de que tem de se ter amor ao próximo não existe. O que existe são murros, fiveladas, chineladas, tabefes, castigos para crianças. Paracuellos faz refletir sobre o que o ser humano é capaz de fazer, de como é possível não tratar bem um outro ser humano. A obra retrata muito bem o que ditadura e religião podem fazer juntas.