28 de abril de 2017

O vandalismo de Roma e o romantismo dos vândalos

Roma, devido à sua história imperialista foi um importante alvo para muitos povos da antiguidade.

Por sua cultura bélica de dominação era, ao mesmo tempo, temida e odiada, segundo a máxima maquiavélica e, portanto, não foi poucas vezes invadida e conquistada por seus inimigos: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

A história registra ao menos sete invasões, saques e/ou ocupações de Roma por povos bárbaros sendo que a terceira delas, em 455 da era cristã, foi realizada pelos Vândalos.

Os Vândalos foram uma tribo germânica oriental de origem escandinava que vivam em tribos, provavelmente, na atual Noruega.

Sentindo-se oprimidos pelas políticas imperialistas de Roma, os Vândalos avançaram pela Europa no Séc. V chegando a se estabelecer no norte da África e ocupando Cartago, umas das cidades mais importantes do Império Romano na época.

Como se não bastasse a ousadia desse povo tribal, invadiram a própria cidade de Roma por duas semanas inteiras até serem despachados pela muito mais poderosa força militar imperial.

O que ocorre é que no período de duas semanas os Vândalos destruíram grande parte das obras de arte que os romanos haviam juntado por séculos.

Pinturas magníficas, esculturas perfeitas e literatura rara estavam agora destruídas e para sempre inacessíveis para a humanidade.

Foi o bispo constitucional de Blois, Henri Grégori (1750-1831), porém, somente no longínquo ano de 1794, durante o processo desencadeado pela Revolução Francesa que efetivou o termo “vandalismo” como sinônimo de destruição.

Ele denunciava a atitude grotesca dos integrantes do exército republicano, a maioria compostas por pobres camponeses, que destruíam os bens culturais da França como os monumentos, as pinturas e os livros do regime feudal. Logo, o bispo ligou a ideia de destruição das artes, das coisas belas, sem que isso lhe traga ganhos financeiros, à palavra “vândalo” ao mesmo tempo que a palavra “romantismo” que designava Roma, era tido como sinônimo de “beleza”!

O que a história omite, contudo é que a atitude dos Vândalos antigos ou mesmo a dos sans-culottes franceses e a dos vândalos das passeatas em São Paulo e em todo o Brasil são motivadas pelos MESMÍSSIMOS SENTIMENTOS.

A arte que Roma tanto exibia nas suas praças e casas não era símbolo da evolução cultural romana tão somente, mas também era símbolo da OPRESSÃO, PILHAGEM e ESCRAVIDÃO imposta a todos os povos que habitavam ao seu redor.

De igual modo os sans-culottes destruíam as artes que eram diretamente associadas ao recentíssimo passado de tirania do feudalismo e do absolutismo que ainda doía nas suas costas.

Os vândalos das ruas brasileiras dos anos de 2013 a 2016 são os mesmos que têm sofrido as agressões financeiras, intelectuais e sociais das mesmas elites aristocráticas, ainda que travestidas de democráticas, em virtude do Poder do Capital e das conexões que ele traz.

O grito na rua de “NÃO É POR 20 CENTAVOS”, que tanto ecoou nas ruas e praças em TODAS AS CAPITAIS BRASILEIRAS e até no Congresso Nacional naquela imagem icônica que reproduziu as sombras de manifestantes na fachadas dos prédios na Praça dos Três Poderes, tem a mesma motivação que levou os camponeses, mesmo que nunca tivessem sido presos, a derrubar a Bastilha com paus pedras, ancinhos e enxadas.

Ao que parece, os gritos de “SEM VIOLÊNCIA” não foram ouvidos pelos policiais que estavam de plantão naquelas datas, ou seja, todo o seu contingente disponível, não porque os vândalos tenham algo contra os policiais, coitados, porque, na verdade são do “povo oprimido” também, mas porque lutam contra aqueles que controlam, inclusive, os policiais. O JOGO DE PODER É IMPLACÁVEL!

“O que é que a agência de carros tem a ver com tudo isso?” – pergunta a senhora, já aposentada, preocupada com o neto que ajudou a vandalizar o ponto comercial, da marca alemã, uma das campeãs de vendas de esportivos no Brasil.

“Que culpa tem esta agência bancária?” – questiona em entrevista o funcionário de uma mineradora de Minas Gerais, quando soube do quebra-quebra promovido pelos manifestantes aos caixas do ITAÚ e que não levaram nada, apenas destruíram computadores, impressoras e tudo o mais a que tiveram acesso.

As duas perguntas levam a crer que o cidadão comum entende que as instituições bancárias, industriais e comerciais têm mesmo personalidade, ou seja, são gente.

A despeito do Direito Civil estabelecer a Personalidade Jurídica para empresas e afins, a análise psicológica deste grupos poderia resultar num gravíssimo diagnóstico: PSICOPATIA!!!

As grandes empresas impingem ao homem comum a mesma OPRESSÃO, PILHAGEM e ESCRAVIDÃO que o imperialismo romano impunha aos povos tidos como “bárbaros”.

Sendo mais fortes que os demais, faziam sucumbir as forças dos derrotados, fazendo prolongar (e/ou agravar) a dor e a pobreza por onde passassem.

É certo que os Vândalos antigos não imaginavam ocupar a tão grande cidade de Roma por muito tempo. Pode ser até que duas semanas fossem mais do que planejassem que a sua força poderia proporcionar, dada a abismal diferença entre as forças imperiais e as tribais. Dois a três dias só já lhes bastaria!

Mas é fato que a história não pode fingir que estes anônimos não tenham SUBJUGADO, ainda que por pouco tempo, O MAIOR IMPÉRIO DE SUA ÉPOCA.

Não pode relegá-los ao ostracismo porque fizeram marcar nas paredes de um povo muito mais poderoso que eles os traços de que eles não se renderam, não aceitavam a submissão frente ao poderio bélico.

A LIBERDADE SEMPRE VALERÁ MAIS!

De igual modo os vândalos contemporâneos brasileiros estão utilizando uma tática que representa, talvez, não a mudança do regime, uma vez que o Capital é uma força poderosa demais para se combater de frente e, uma vez aliada aos TRÊS PODERES CORROMPIDOS DA REPÚBLICA, é impossível vencê-la, mas, as suas duas semanas de glória, a sua marca na história, o registro indelével de que estiveram por aqui… e ainda estão!

“Vandalismo” e “Romantismo” são visões preconceituosas!

É tão somente a versão história contada pelo mais forte!