10 de maio de 2016

Religare

Todos nascemos ateus. Era o que dizia o avô agnóstico a cada nascimento.  Para contrariar o que o patriarca da família definira como certo, tornou-se católico. Batizado, crismado, primeira comunhão feita. Foi coroinha na igreja. Passou a infância assim, servindo aos padres e à casa do Senhor. Até um amigo o levar para o candomblé. Ficou fascinado pelos rituais e possessões. Passou a adolescência assim, girando em roda, tocando atabaque, celebrando entidades. Até uma amiga lhe presentear com uma Bíblia. Ressaltou que ali havia a Verdade. Passou a juventude assim, orando, louvando e obrando para os pastores. Até que o noticiário lhe mostrou o Islã. Tornou-se adulto assim, deixando a barba crescer, ouvindo os fundamentos, rezando virado para Meca, lendo o Alcorão.  Num dia de outono, explodiu feliz.