9 de maio de 2015

Diana, Ricardo e Nelinho em: A ave do rabo dourado

Lá estão os três, embrenhados até o pescoço no meio daquela selva, com árvores muito altas, cheias de cipós, muito barulho de pássaros e apenas uma indicação no mapa, seguir ao norte. Na verdade, o mapa lhes foi enviado sem remetente, grafado em um pedaço de pele de animal, coisa muito antiga, e lá foram eles em mais uma aventura sem saber o que lhes esperava, sem nenhuma pista além do mapa e suas indicações. Nas mochilas, o de sempre, e mais alguns apetrechos novos, coisas pra se virar numa selva sem maiores problemas como lanternas, canivetes, cordas, facas. E, desta vez, levaram uma barraca também no caso de terem que acampar em algum lugar.

Pelas árvores serem bem altas, o sol só chegava no solo por frestas, espaços entre as folhas, o ar era o mais puro, coisa que em cidade grande as pessoas já nem lembravam mais de como é bom. Perto do solo, a umidade era grande, o que propiciava insetos, nossa, muitos insetos e mosquitos, mas graças aos repelentes em creme eles não se incomodaram muito com isso, e continuavam seguindo para o norte da ilha.

A ilha tinha um nome doce, Anápolis, porém as lendas que lá existiam não eram tão doces assim, diziam que nela haviam animais jamais vistos, ferozes, e que quem voltava pra contar, mal podia falar de tão aterrorizado, aí os boatos e histórias cresciam, onde cada um contava de seu jeito e aumentava com certeza algum ponto da história ouvida.

A mais comentada era a de existir uma ave com um enorme rabo dourado, como ouro, e quem conseguisse uma pena de seu rabo nunca mais seria pobre, mas todos que tentaram capturar a ave nunca mais voltaram, e as histórias eram muitas, como todas eram velhas não se sabia qual era realmente a verdadeira e se alguma foi algum dia real, era isso que os meninos tinham que desvendar.

Os mistérios da floresta também eram muitos, diziam que era habitada por bruxas, borboletas com cores nunca vistas, macacos miniatura, pássaros que tinham um piado que lembravam gritos. Diziam também que havia um riacho no meio da ilha onde existiam carpas enormes, lindíssimas, mas que se alguém as tentasse capturar seria transformado em uma e viveria lá para sempre.

Muitas eram suas histórias, mas os amigos não davam muita atenção, tinham medo sim, porém a vontade de desvendar os seus mistérios era maior do que qualquer medo, e lá foram eles, cada vez mais embrenhados, no meio de todo aquele verde. As flores também eram lindas, de um colorido exuberante, realmente não se podia negar que a ilha reservava belezas incríveis.

Assim foi chegando a noite, estrelada como a muito não se vê nas cidades grandes, a lua, tão luminosa, que, de tão clara, dava a sensação de quase dia, quando resolveram que já era hora de montar as barracas. Comeram algo e dormiram rápido, pois o cansaço era nítido em seus rostos e corpos.

Na manhã seguinte, o sol já era claro quando acordaram, tomaram um breve café, tudo trazido nas suas enormes mochilas, e lá vão eles novamente à procura da ave do rabo dourado, adentrando na floresta.

O caminho começou a ficar íngreme e difícil, mas conseguiram chegar ao topo, quase sem fôlego, mas valeu a pena seguir nesta direção. Se via tudo lá de cima, porém um enorme tapete verde e nem sinal da ave, tiveram a sensação de ter visto atrás de uma montanha mais adiante umas luzes douradas, que poderia também ser apenas reflexo do sol, como saber? Só seguindo em sua direção.
Boa estrada não tinha, mas tudo valia a pena para estes três adolescentes, que iam desbravando a mata que gente grande ficaria orgulhosa. Avistaram uma cachoeira de águas bem claras e aproveitaram para encher seus cantis e relaxar um pouco ouvindo o som das águas. Foi aí que decidiram seguir o curso das águas do rio, que provavelmente os levariam a algum lugar habitado, onde pudessem ter alguma informação da ave. A cada passo, as águas ficavam mais tranquilas e calmas, foi quando ouviram um som estranho e muito alto, porém bem próximo de ser um pássaro enorme... Será?

Se entreolharam e como que lessem o pensamento um do outro, começaram a correr na direção do som, com os galhos enroscando nas pernas, um atrás do outro, e a sensação do frio na barriga crescia, na medida que o som ficava mais perto que nem perceberam que subiram um morro, foi quando chegaram ao topo que veio a surpresa, chegaram a perder a fala, com a descoberta, seus olhos e sua imaginação jamais chegariam a tanta beleza. Tudo dourado, lindo, coçaram os olhos na intenção de acordar daquele sonho, mas era realidade. Uma cidade perdida ali no meio daquele verde intenso da floresta, com casas, torres altas, ruas de pedra, tudo dourado com um estilo próprio, nunca visto ou imaginado. As pessoas indo e vindo de um lado para outro, mas a distância não os deixava identificar como elas eram. Foram descendo e se aproximando lentamente, para não levantar suspeita, e desagrado geral, mas era tarde, estavam cercados, mas para surpresa, todos eram como crianças, agora o melhor a fazer era manter silêncio e aguardar, não se sabia qual dialeto eles falavam, se eram amigáveis ou não, nada era o que tínhamos e paciência é uma virtude!

E lá vão eles, encurralados sendo levados para o centro da cidade, todos parando o que faziam com os olhos fixos nos três, mas nenhum deles parecia hostil, seus rostos eram de paz e alegria, mas ninguém fez festa quando os viu, e a multidão ao mesmo tempo que se formava se abria para passarem, conduzindo-os até um palácio com uma enorme torre dourada, e bem lá em cima havia uma janela, uma sacada onde surgiu uma linda moça de longos cabelos cacheados e dourados, como todo o resto da cidade, mas seu olhar não era de maldade, mas de curiosidade, o que três pessoas tão jovens faziam ali sozinhas no meio de uma floresta desconhecida, logo lhes fez a pergunta, que foi respondida de prontidão, estavam em busca da ave do rabo dourado, neste momento todos se entreolharam e o rosto da bela moça se franziu.

Foi aí que Diana percebeu e logo acrescentou: “não vamos lhe fazer nenhum mal, só queremos saber se realmente ela existe e porque vive escondida, se só existe uma, como ela é, porque quem a viu nunca mais voltou pra contar, e foi falando sem parar, até que a moça de cabelos dourados a interrompeu, como saberei que vocês estão dizendo a verdade?”
Aí foi Ricardinho quem tranquilamente tomou a frente para responder a pergunta da linda moça: “Nós não estamos à procura de dinheiro e fama, e sim de aventuras, gostamos de conhecer novas culturas, pessoas e coisas nunca vistas, ajudar as pessoas com o conhecimento.”

A bela moça de cachos dourados indagou então que era difícil de acreditar neles, pois todos que chegaram até ela diziam ser boas pessoas, mas na verdade estavam em busca de glória, poder e riquezas, e como eles poderiam ser diferentes? Até que uma das damas de companhia da bela moça sussurrou em seus ouvidos algo que na hora a moça sorriu.
“Ok”, disse a bela moça, “então vamos fazer um acordo, pois só há um jeito de saber se dizem realmente à verdade, vamos chamar Spectro, ele nos ajudará, levem-nos até o alto da torre.”

Eram muitos os degraus até lá, já estavam cansados, porém era necessário passar por esta provação para acreditarem que realmente diziam a verdade, mas quem era Spectro?
Enfim, chegaram ao topo da imensa torre, onde a bela moça já os aguardava, virou-se para os três primos e disse que logo Spectro chegaria e resolveria esta questão, foi então que escutaram aquele grito ao longe, o mesmo que os fizeram correr como loucos na beira do rio até chegarem na cidade. E o grito ia aumentando cada vez mais, foi quando avistaram uma enorme ave azul turquesa e com um rabo gigante com penas douradas que se misturavam com o azul chegando a ofuscar nossos olhos, vinha na direção da torre, era ela, a ave do rabo dourado, simplesmente linda.

Quando já quase pousando, a Bela moça disse: eis Spectro, ele saberá, e, assim que pousou, bem na frente dos 3, se reverenciou à bela moça, onde recebeu instruções em voz baixa, se aproximou dos garotos e devagar foi encostando seu bico gigante na cabeça de cada um deles que neste momento estavam hipnotizados por uma mistura de emoção, medo, frio na barriga, tudo. Depois de os encostar, a ave voltou-se para a bela moça e baixou a cabeça de uma maneira diferente a reverência que havia feito quando pousou, a moça sorriu, e voltando-se para os jovens, ela se apresentou como Serena, a princesa de Dourados, nome da cidade em que eles estavam, perdida a muitos e muitos anos, mas porque eles faziam questão de permanecer assim, esquecidos.

Em seguida, Spectro virou-se para a outra extremidade da torre e voou novamente como que agora retornando de onde viera, em seguida Serena os convidou a entrar no belo palácio central para uma conferência, e lá iam eles descer as escadas, mas desta vez só até a metade onde ficava um salão enorme com muitas pessoas que já os esperavam ansiosas, para saber de todos os detalhes.

Serena os acompanhou em silêncio, quando já na grande sala, e acomodados em seus lugares ela saudou a todos e começou a explicar o que havia acontecido, um procedimento normal para se saber se os visitantes dizem a verdade. Spectro, dizia ela, uma ave extinta a milhões de anos que achou em nossa civilização uma maneira de sobreviver sem precisar se defender, tem o poder de sentir os corações puros e verdadeiros, por isso encostou seu bico na cabeça de vocês para sentir seus corações e se diziam a verdade e constatou que sim. Vocês disseram a verdade sobre o que vieram buscar, cultura e aventura, por isso os trouxe pra cá, para tirar-lhes todas as dúvidas. Os três se entreolharam e começaram a perguntar todos juntos de uma só vez, foi quando Serena balançou um sininho bem pequeno mas com um barulho ensurdecedor e todos se calaram, ela os olhou e disse: “um por vez, por favor.” Daiane tomou a frente, e perguntou porque todos que vieram procurar a cidade jamais haviam voltado?

A princesa respondeu que muitos dos que procuravam a cidade estavam a procura de riquezas, poder, gloria, estes ficavam pelo caminho, pois no caminho até a cidade haviam muitas armadilhas pra quem é ganancioso, como o rio com suas carpas lindíssimas, perguntou Rodrigo, Serena concordou, explicando que o rio era encantado, quem tenta caçar as carpas somente por sua beleza ou diversão, ao tocá-las se transformará em uma delas, de igual beleza, assim sua jornada de ganância termina sem ferir mais ninguém. Havia também os que conseguiam chegar até aqui mas se deslumbravam com nossa riqueza e tentavam raspar as paredes pra levarem-na consigo, porém a um encantamento que ao tocar nas paredes de ouro da cidade a fim se transforma em pó de ouro, que usamos pra reconstruir ou construir. Porém, há também os bons, estes quando chegam até nossa cidade acabam adorando nosso modo de vida e tendem a ficar, mas para isso ele tem que se tornar criança novamente, Ricardinho não aguentou e perguntou: “Mas e a ave, o Spectro?”

Serena sorriu e disse: “Esta ave é que completa o ciclo de quem realmente quer ficar e pertencer a nossa cidade.” Ricardinho completa: “A lenda diz que quem conseguir tirar uma pena dourada da ave terá todas as riquezas do mundo!” “Sim”, diz a princesa, “para pertencer a nossa cultura e cidade, tem que se encostar ao rabo dourado de Spectro. Toda riqueza do mundo é nossa cultura, nosso modo de vida, nossa cidade, nosso caráter, esta é a riqueza do mundo, todos pensam que riqueza significa ouro, e coisas materiais, quem quer ficar volta a ser criança, porque nas crianças há pureza e verdade. Spectro representa a sabedoria suprema, o amor, humildade, por isso prezamos tanto este animal que por séculos nos acompanha e nos ensina a preservar a fauna e a flora, para vivermos em sintonia com a natureza, só retirando o que realmente se precisa pra viver feliz.”

Os três primos comovidos, haviam aprendido mais uma lição. A aventura fora demasiadamente proveitosa, além de desvendar a verdadeira história sobre a ave do rabo dourado, aprenderam sobre a vida na natureza, naquela cidade perdida que se depender deles vai continuar assim por muitos séculos mais.

A hora de voltar se aproximou, agradeceram a hospedagem e partiram, claro que com uma ajudinha extra, pois Spectro os levou até a saída da floresta, poupando uma caminhada de mais alguns dias, a aventura fora muito emocionante, quando Spectro os deixou se despedindo e voltando para o centro da floresta, eles se olhavam sem acreditar, será que fora tudo verdade? Ou dormiram e tudo não passou de um sonho!

Mas a verdade era uma só, as lendas, claro que algumas eram verdadeiras, outras puro boato, mas o que realmente valia era que a ave do rabo dourado, Spectro, existia, mas fazia parte de um mundo que jamais poderia ser descoberto, ficaria assim como apenas uma história ser contada!