10 de abril de 2015

The next stranger

Não era rotineira a prática daquela atividade, mas as férias estavam demasiadamente tediosas e havia algo entre minhas pernas que merecia e exigia carinhos e afagos. O site fora indicação de uma amiga, professora de inglês, que dizia ser ótimo para exercitar a fluência na língua, e funcionava assim: existiam duas seções: uma para pessoas que tinham web câmera e a outra era a das pessoas chatas que apenas queriam conversar. Na seção das câmeras, que era a que eu acessava, a coisa funcionava assim: o webcam ligava de repente e eu estava conectado de imediato com uma pessoa qualquer, residente de qualquer parte do mundo, e, caso a pessoa não fosse do meu agrado, não tivesse o que eu procurava, havia um botão que dizia “THE NEXT STRANGER”, que logo interrompia minha ligação com aquela criatura e me ligava rapidamente à outra. Aquilo era divertido: mulheres, homens, ninfetos, pervertidos, velhas e punheteiros compulsivos. Alguns já apareciam pelados, em ponto de bala, com sorrisos de escárnio e dentes amarelados.

Eram peitorais e coxas que me tiravam o fôlego, acompanhados de copos de suco de abacaxi que mamãe sempre deixa na geladeira antes de ir trabalhar. Sempre pediam para que eu mostrasse meu “ass” ou meu “dick”, e eu ria de tudo aquilo. Gostava de apreciar os pelinhos ruivos dos alemães, os peitos fartos e peludos dos mexicanos, os cacetes rosados dos americanos dos olhos azuis. Sabe algo bem engraçado? É que bastava eu dizer que era um “brazilian boy” que a gringalhada toda se eriçava de tal modo que eu nunca entendia. Acho que nossa sensualidade caliente é sentida mesmo de longe. E o período de férias inteiro foi isso: acordava cedinho imaginando os cacetes que o site novo me reservava, quais territórios eu iria conhecer e explorar durante as horas do dia.

Aconteceu no penúltimo dia das férias: esbarrei com um brasileiro mais quente que todos. De tanto visitar os gringos, passava longe da minha mente que eu pudesse me deparar com o puto de um brasileiro, e quem dera fosse um brasileiro qualquer, ainda assim teria me deixado aliviado. Antes dele eu falava com um australiano lindo, uma pele bronzeada e uns cabelos loireados pelo sol das praias próximas à sua casa. Mas falava muito em mulheres e se afirmava – com todo orgulho – heterossexual, mesmo insistindo há duas horas para que eu mostrasse minha bundinha, que ele dizia imaginar ser branquinha como a areia da praia. Este tipo é, de todos, do qual mais sinto asco, e logo recorri à ajuda do botão que salvaria a pátria, sem ao menos despedir-me – antes tivesse o suportado por mais alguns instantes. O próximo estrangeiro, que não era tão estrangeiro assim, me fez paralisar frente à tela do computador, tirou meu sorriso do rosto e fez o sangue parar de correr pelas minhas veias por alguns instantes. Meu professor de Química, pelado, de pau duro e latejante, e acho que sofreu os mesmos impactos que eu, que somente conseguia observá-lo, esperando pelo próximo passo que ele daria.

Ficamos cerca de vinte segundos parados e nos olhando fixamente. Ele levou os braços na direção do chão, sem tirar os olhos de mim, e levantou a cueca e o short para vestir-se. O volume enrijecido e colocado lateralmente à esquerda ainda continuou a marcar sua roupa, era notável. Baixou os olhos ao teclado e começou a digitar algo. Meu coração parecia querer sair pela boca, mas estava tentando levar aquilo tudo na maior normalidade possível, nada de pânico. “Posso te telefonar agora?” – ele perguntava. “Acho melhor não” – respondi. “Isto era apenas uma brincadeira, não costumo fazer isso. Esse final de férias, nada para fazer aqui, entende?” – Havia nos seus olhos um resquício de desespero, ainda que não quisesse deixar ser notado.  “Entendo sim, certamente.”

Ele abriu um sorriso de canto de boca, respondi com um ainda mais aberto. “Você está em casa? Ainda mora no mesmo lugar?” – perguntou-me, e senti ousadia na continuidade daquela conversa. “Sim, no mesmo local. E você, ainda no mesmo condomínio?” – “Sim, no mesmo lugar. Ainda lembra onde fica? Quer dar um pulinho aqui agora?” Sorri, ou melhor, gargalhei. “Em vinte minutos chego aí, professor” – disse, desligando a tela do notebook. Achei que não teria nenhum problema na visita, pois minha mãe chegaria somente à noite e, além do mais, Química nunca foi minha matéria favorita, seria um peso a menos para me preocupar durante o ano letivo.