22 de agosto de 2014

Poesia

 
 

Um salve à

Desconstrução

Da métrica.

Das metáforas e metonímias que estão escritas na negritude dos teus olhos miúdos bebo. E alimento-me da intensidade dos últimos versos dos teus poemas, que são sempre os que me consomem e trazem consigo os tiros mais certeiros. Teu corpo é por inteiro poesia, e teus lábios são as rimas que chegaram para desconstruir a métrica que haviam nos imposto, amantes. Tu és poesia em acordes, em estrofes, em melodias e há arte também no sal do teu suor. Teu toque levanta os pelos da minha nuca, e vejo no teu corpo arte, e divino é o Artista que te fez - artista também. Foi contigo que descobri que sonho também tem cheiro, gosto e deixa manchas terríveis nas roupas. E tu és ainda o objeto caro que eu, criança pobre, não posso levar para casa. E a vitrine que nos separa parece ser límpida e forte, e até os meus olhos ela encanta. Se tu soubesses do carinho que lateja no meu peito, do anseio que tenho por te dá-lo, não se manteria assim, tão distante, e correria aos meus braços, quebraria esta vitrine e conheceria o calor de um corpo diferente dos que te iludiram e te deixaram neste mesmo lugar, objeto secundário. No interior do meu peito algo sangra. Não te culpo, ao contrário: inocento-te. E neste peito uma dor fremente liquida a vontade de sorrir que me surge de quando em vez. Sou teu à hora que tu quiseres. E quando quiseres, acena-me e me chama: levantar-me-ei desta calçada que agora estou, limparei meus olhos e te sorrirei, e cínico te direi que está tudo bem.

                 
Por Júlia Sá.