8 de agosto de 2014

Avesso

 
À minha frente vejo um rio de águas baldeadas, densas e profundas. Garimpo um objeto negro e brilhante, beleza única, nunca antes vista por estes olhos. Há presenças que chegam, têm cheiro forte, embriagantes, e brilham com tamanha intensidade que nos fazem marcar – sozinhos - o dia do encontro. E quando nos pegamos estamos presos, amarrado nos passos de alguém que, indecifrável, nos tem nas mãos e sabe disso. A paixão chega e faz morada, não se deixa ser entendida, vira doença. Chamamos então amor, e amor é mais bonito. Queremos vê-lo, o alguém, sempre bem, sorridente, mesmo que em nós corroa o líquido maldito da indiferença e incompreensão recebida. Vai martelando, doendo, sangrando. Sara nunca ou sara amanhã? Não se sabe. Quantas vezes os olhos são fixados e as declarações ridículas se personificam? Quantas vezes as lágrimas vêm, tímidas, e desembestam, silenciosas, pela face retraída? Existe um desejo que nos maltrata por sermos iguais. Finaliza-se cá um ciclo vicioso, que tem me consumido – e a tudo que fiz – nos últimos meses. Sentimento é bicho traiçoeiro e pode facilmente, quando enraizado na mente, enlouquecer qualquer um(a). Tentei te mostrar um mar de possibilidades, mas acho que falhei. Despeço-te de ti, meu bem, pois não suporto mais o fardo de saber que te amo, e tu, que me admira de longe, não te permites, pois não te moves em ti.  Tu demorarás a sarar, decerto, e talvez não sare nunca – sare amanhã, por favor. De mãos levantadas, olhos marejados, grito: EU ME RENDO!

Eis o que tu foste em mim: um tiro certeiro no peito errado.