3 de agosto de 2014

Decepção

Ao adentrar o quarto, percebi que a cama não era redonda e no teto não havia um enorme espelho – como haviam me dito que eu veria. Aqui e acolá se via algo no tom avermelhado, que é a cor do desejo. A porta de um pequeno frigobar, com marcas de ferrugem nas dobradiças, rangeu quando abri e me deparei com um mar de garrafinhas de água mineral, somente. Ela havia se deitado sobre a cama – quadrada – e dava pequenos gemidos, rolando por cima da cocha não tão macia nem limpa, como uma égua que se banha na areia. A televisão não funcionava, o ventilador empoeirado (não havia sequer ar-condicionado!) fazia um barulho agonizante e, sem divã ou poltrona, havia apenas duas cadeiras de plástico duro naquele quarto apático. Que situação desagradável aquela! Apenas uma curiosidade minha e a obrigatoriedade de estar acompanhado havia me levado àquele lugar. Ela estrebuchava-se sobre a cama à minha espera, chamava-me, mordendo os lábios, tentando sensualizar com os dedos a esfregar os grandes lábios – encardidos. Eu olhava ao redor e não acreditava na burrada que havia feito: adiantei o pagamento de três horas que teria que passar naquela pocilga! E agora teria que fazer meu dinheiro valer a pena. Olhei para aquela vagabunda e fui desabotoando a camisa e a bermuda. Entendi que a decepção maior não seria o dinheiro mal investido, mas pior ainda era o incômodo da ideia de agora ter que foder alguém que eu nunca quis, maldita que era, que me fazia sentir raiva por não estar em seu lugar, deitado à espera de um homem que desabotoasse o short na minha direção.