5 de julho de 2014

“Mamãezinha disse que escolhesse essa daqui”.

Quando comecei as minhas investigações em literatura infantil ( vê http://www.literaturabr.com/2014/07/a-biblioteca-das-minhas-sobrinhas-em-e.html ), um por gostar muito e me divertir bastante, dois pelo número de sobrinhas e filhos de amigas e amigos que estão aparecendo na minha vida, três pelo fato de trabalhar alguns anos com a profissão de contador de histórias e mediador de leitura, questionei-me como escolher livros para esse público, para contar histórias, por exemplo, sempre escolho por afinidade, conto aquilo que amo, mas isso ainda não é tudo, não posso apresentar só o que gosto para as minhas sobrinhas, posso?

Como toda arte, mídia, como todo o mundo, os livros feitos especificamente para as crianças estão recheados de ideologias, de ensinamentos, de conselhos, afinal, os contos de fadas surgiram primeiro com esse intuito, ninguém quer sua filha “engolida pelo lobo mau”, por isso a história da Chapeuzinho está aí pra alertar nossas meninas e meninos. Escondido nas entrelinhas de alguns desses livros já vi, machismo, conformismo, coisas nada legais que particularmente não gosto, rondando livros, gibis e afins.

Um dia, entrei na livraria e a primeira coisa que vi foi, “livro de desenhos para meninos” adivinha quais as coisas que tinha dentro? Nem precisa colocar o tarô. Coisas assim quero evitar para meu filho que um dia vai nascer.

Por isso, pedi ajudar para algumas amigas, questionei-as se elas foram crianças leitoras, todas responderam sim em maior ou menos grau de leitura. Questionei se elas estavam atentas ao que seus filhos estavam lendo. Mais uma resposta positiva.

Avançando nessa minha pesquisa, sobre escolhas tive algumas respostas, como essas:

“vamos muito a livrarias juntos. eles folheiam os livros e fico atenta aos interesses deles. como leio muito sobre literatura infantil, também apresento autores, personagens, dialogamos sobre , pergunto se querem conhecer tal ou tal livro. também frequentamos sebos virtuais, um achado para bons livros tanto seminovos como esgotados. um exemplo é do autor que estamos lendo agora, o britânico Roald Dahl. Chegamos a ele por conta das duas adaptações para o cinema de "A Fantástica Fábrica de Chocolate". Minha filha mais velha já havia lido o livro junto com a professora de sua antiga escola e queria reler. Foi uma releitura para ela, mas para o caçula foi o primeiro contato com o autor. Na orelha do exemplar descobrimos que Dahl tem outros livros infantis e compramos mais dois títulos, "Matilda" (que teve uma ótima adaptação para o cinema por Danny de Vito) e "Charlie e oElevador de Vidro" (continuação de "A Fantástica Fábrica de Chocolate"). Eles decidiram que gostariam de conhecer um personagem novo, então estamos lendo agora "Matilda" e só partiremos para saber o que acontece com o herói Charlie Bucket e o senhor Wonka em seguida (para dar saudades do Charlie e criar suspense, segundo as crianças). Vivemos um processo similar com os livros que contam a aventura da personagem Pippi Meialonga, da sueca Astrid Lindgren, e com as autoras Ruth Rocha e Eva Furnari”

- Mimi Verunschk

“Sobre a escolha dos livros, geralmente ele escolhe. Visitamos regularmente a biblioteca da escola, às vezes juntos, às vezes separados. Algumas vezes eu levo algum livro que acho ser do interesse dele, mas ele é muito ativo nas próprias escolhas e geralmente faz isso sozinho. No entanto, como eu já conheço os interesses dele, minhas sugestões são bem aceitas.”

- Irlane Alves

Entre escolher e permitir escolher, o acompanhamento dos pais e mães é de suma importância, a leitura é antes de tudo um momento de prazer e diversão, contudo, quando as crianças crescem o nível de leitura delas também podem e devem crescer, nossa participação nesse momento é fundamental, nosso conhecimento de mundo é maior, nossa leitura de mundo também. Vivemos mais, simplesmente. Por isso podemos oferecer uma boa diversidade para eles. É bom lembrar o que o Gilberto Gil disse sobre política cultura, e trazer para nos, “o povo sabe o que quer, mas também quer o que não sabe”. Os pequenos têm muita atitude, é verdade, porém, não podemos deixá-los a mercê das escolhas da mídia, dos bonequinhos da moda. TV não é educador, então não custa nada assumirmos nosso papel nesse processo educacional literário e estético dos nossos filhos, irmãos, primos e sobrinhos, e sermos ativos e atentos.

No fim das contas, escolhendo bons livros, ler junto vai ser muito mais divertido, um bom livro de literatura infantil é antes de tudo um livro de literatura, assim sendo é universal, sem idade, gêneros e nacionalidade.