3 de julho de 2014

Independente de quem? Ou sobre morrer de fome ou de nome, a busca da identidade de uma editora independente

Eu começaria a escrever esse meu pequeno texto indo ao dicionário e pesquisando o significado da palavra “independente”, contudo procurei muito e não achei o velho Aurélio daqui de casa, mas vale o exercício, pesquise no google o significado da palavra independente, ou use seu conhecimento linguístico junto com seu conhecimento de mundo e diga pra si mesmo que diabos essa palavra significa.
 
A resposta vai apontar mais ou menos para o mesmo caminho, aquilo que é livre de, aquilo que é autônomo, dentro dessa perspectiva seria ingênuo falar em latu sensu sobre algo no mundo que fosse verdadeiramente independente, a não ser sempre em relação a alguma coisa, exemplo, uma banda independente o é em relação as grandes gravadoras, um filme independente o é em relação as grandes distribuidoras, um escritor independente o é em relação as editoras e livrarias, mas o que seria então uma editora independenteIndependente em relação a quem?
 
Desde que adentrei junto com meus dois Amigos Nathan Matos e Madjer Pontes nesse mundo de ser editor nunca mais tive sossego e só adicionei perturbações no meu pensamento que nunca foi lá muito pacífico, principalmente em relação ao mercado e minha relação dentro dele.
 
No texto do meu amigo e sócio, Nathan Matos, publicado aqui no LiteraturaBR, ele coloca uma série de provocações principalmente em relações as livrarias. Tenho uma grande amiga livreira, conversando com ela sobre preços e porcentagem ela deu-me um enorme puxão de orelha e comprou briga colocando uma questão muito válida, disse ela que não é porcentagem dessa participação que está errada e sim o preço do livro.
 
Porém, entre o justo e o praticável existe uma ponte, uma ponte que precisamos analisar, debater, entrar em consenso. Todo mundo tem que conseguir sobreviver nesse sistema literário, agora como sobreviveremos todos juntos e felizes, aí são outros quinhentos.
 
Acredito que esse “independente” o é em relação ao mercado, ora, queremos ser independente dele, mas queremos estar nele. Sim, contudo está no mercado não deve ser, no meu mundo utópico acredito assim, ser refém dele. ( isso é possível? algumas economias alternativas mostram que sim) 
 
Antes de qualquer outra coisa o editor está dentro do sistema literário e tem consciência de que é preciso de escritor, editor, livreiro, mediador, leitor e crítico para a existência desse sistema, todos esses atores dialogando na construção de uma literaturaleitura, sabendo que, sendo a leitura um processo de construção de significados, ela é tão necessária quanto o pão nosso de cada dia.
 
Por último, acredito que denominar-se editor independente é uma marcação politica e não fugiremos de todos os embates que um ser político tem de enfrentar. Precisamos pensar sobre como nos organizaremos e construiremos nossas identidades, como demarcaremos nosso território, qual será o nosso discurso ou discursos e o principal, como fugiremos da lógico predatória do capital para estabelecer conexões e mutuamente com todos os atores do sistema literário aqui já mencionados promover a continuidade da nossa existência.
 
Até lá, deixo um último questionamento, existe um leitor independente?