27 de junho de 2014

MARÉ

 
 

Sabe quando você entra no mar bravio sem medo da maré? Quando a onda – traiçoeiramente - quebra pertinho de você? Pois é, pensei eu que a maré me trataria bem, que viria na intensidade certa para matar apenas minha vontade de mergulhar em águas claras - e não foi assim. Cercou-me, morna e espumante, em um vai-e-vem envolvente- na altura da cintura. De longe eu ouvia gritos dos mais próximos: “volta daí, não se afoita, rapaz!” Fiz-me de surdo. À altura do peito, a água - trazendo em sua profundidade aranhas vermelhas, que roçavam em minhas pernas – fazia-me perceber que era hora de voltar, a brincadeira ganhava certo perigo. Sem encontrar o chão com os pés, de mãos levantadas e com água a entrar-me pela boca, tampando os gritos que meus observadores já não ouviam, pensei ser aqueles meus últimos suspiros, desesperado. Mas foi quando as forças haviam se dissipado que me encontrei em meio a um banco de areia, no meio do mar, que me fez descansar e criar forças para retornar à praia a salvo. Recuperado, novamente à frente do mar traidor, gritei palavras de fúria e zombei dele, dizendo que jamais voltaria a seus domínios. Ao chutar a areia fofa pela última vez, cometi o maior dos erros: virei-me e fiquei de costas para a maré, e mais uma vez fui tocado por estas ondas que agora me arrastam para o fundo; eu, que ainda não me havia recuperado do último baque, agora me encontro sem forças para resistir ao canto dos malditos tritões do banco de areia, que me salvam e afogam nesse mar confuso confuso, confuso e carrasco.

  Por Júlia Sá.