14 de abril de 2014

A Morte da Professora

 

- Mais uma vez, vou repetir: substantivo: tudo aquilo que nomeia um ser.

Novamente o triturar de uma bolinha de papel no ventilador de teto. A turma cai na risada e o descontrole toma as rédeas da classe ainda aos quinze minutos da primeira aula, eram três.

Surgem então as ameaças do docente: diminuiria dois pontos na média, expulsaria de sala e chamaria os pais. Logo, o escárnio do discente: fosse pra puta que pariu com porra de ponto e que tirasse mesmo de sala, estava a fim de passear. Novamente as risadas dos parceiros. Continuemos:

- Brasil é um substantivo próprio, pois só existe ele. – um exemplo – E bandido é um substantivo comum, pois há em todos os lugares, vemos a toda hora. – outro exemplo, mal dado, porém verídico.

Dois anjinhos, lá no fundo da sala, começaram uma briga: o maior, que não usava a farda da escola porque achava feia, arrotou na cara do menor, que o tinha como um ícone. Mas quem suporta um arroto nas ventas? O espatifado de cadeiras foi grande, os dois bolando pelo chão. A turma ficou responsável pelo coro: iêêêh!

Foi necessário um tempo de quinze minutos para reorganizar a turma, agora com desfalque de dois membros, que foram à secretaria para aconselhamento. Recomecemos:

- Então já sabemos que substantivo é tudo que existe, que tem nome. Tudo aquilo que...

Outra bolinha de papel – esta molhadinha de cuspe – voou do fundão para frente, em uma mira perfeita na cabeça da professora. O fim da conversa.

Um pranto incontido, aos soluços desembestados, da educadora ao sair da sala, rumo à coordenação. A diretora fez-lhe uma garapa de açúcar e dirigiu-se à sala em festa. Ralhou, ameaçou com expulsões e novamente chamar os pais dos mal comportados. Que ficassem quietos, legião de demônios! – um substantivo coletivo.

Faltando apenas dez minutos para o término da última aula, a pedido da diretora, um pouco mais calma e recuperada do baque, a professora volta à sala, de cara trancada e escondendo as mãos ainda trêmulas. Uma nova tentativa:

- Então, gente, o que é um substantivo?

Cabeças baixas, olhos de dúvidas e um silêncio sepulcral. Era a morte da professora.