25 de março de 2014

Re/flexão de gênero

Dentro de mim tem um caminhão de gente, “todas elas juntas num só ser”. Caso toda essa turma fosse igual, eu não seria plural. Tudo que eu fui, ainda é o que sou. Todas as possibilidades do vir a ser, também. É simples e não é.

Quando escrevo sem determinar o gênero do narrador para poemas ou textos de amor, por exemplo, às vezes as pessoas caem numa ingenuidade simplicista: homem falando para mulher. Quem garante isso, afinal? Só porque assino com nome masculino?

É preciso desligar o automático e ficar sempre alerta. Aliás, é preciso saber que não tem essa de automático ou natural, vivemos num mundo ardilosamente construído por conservadores.  Entre dois pontos sempre haverá uma infinitude de possibilidades. É preciso ter cuidado com os reducionismos.

Quando vejo alguém cantando uma música flexionando o gênero da letra, por exemplo, me encho de vergonha alheia. Acredito que a constante prestação de contas a essa sociedade careta deve amedrontar as pessoas que não querem ver sua sexualidade questionada.

Escolho o gênero nos poemas por uma opção política, raramente por impulso. Quando oculto ou neutralizo o gênero é para ampliar as possibilidades da leitura, para que qualquer ser humano se transponha ao texto. Ou ainda, qualquer ser com vida, fiquei sabendo que os golfinhos tão vindo com tudo por aí.

Por Fred Caju